Hinos do Rig Veda - por Raul Xavier

HINOS DO RIG VEDA

(Anuvaca 1, Suta 1)
Composto pelo richí Madachhandas, filho de Visvamita.
1 - Glorifico Agni, o grão sacerdote, o adivinho, o oficiante riquíssimo-, que leva aos deuses a oferta do sacrifício.
2 - Possas trazer os deuses aqui, Agni, digno dos louvores dos sábios de todos os tempos.
3 - Agni concede ao seu devoto a abundância, que aumenta a cada dia, princípio da boa fama e do aumento da raça humana.
4 - Agni, o sacrifício sem empecilhos, que protegei com tuas chamas, vai até aos deuses.
5 - Venha com os deuses aqui o mensageiro das ofertas, Agni, sábio, afamado, fiel, divino.
6 - Concede, Agni, a quem oferece o sacrifício, todo o bem que te for possível. Esse bem voltará para ti, Angiras.
7 - Quando te veneramos em pensamento pela manhã e à noite, nós nos aproximamos de ti, Agni.
8 - És o radiante, o protetor dos sacrifícios, sempre iluminas a verdade. Cresces em tua própria morada.
9 - Agni, aproxima-te de nós como o pai chega mais perto dos filhos. Permanece conosco.

(1, 3) Composto pelo mesmo richí
1 - Asvins, que tendes os braços longos e apreciais os atos piedosos, aceitai os alimentos que vos oferecemos neste sacrifício, e vos apresentamos com nossas mãos estendidas.
2 - Asvins, poderosos, corajosos, guia da nossa piedade, ouvi atentos os nossos louvores.
3 - Asvins, limpos de falsidade, destruidores dos inimigos, que andais à frente dos heróis, aproximai-vos das ofertas expostas sobre a erva sagrada.
4 - Indra, esplendor admirável, vem aqui também. Desejam-te estas libações feitas pelos dedos dos sacerdotes.
5 - Indra, inteligente, estimado dos sacerdotes, aproxima-te, aceita a prece do oficiante ao derramar a libação.
6 - Indra, rápido em corcéis celestiais, acorre às preces do oficiante e nesta libação aceita o alimento que te oferecemos.
7 - Deuses universais, protetores e sustentáculos dos homens, vós que distribuis as recompensas, vinde às libações, oferecidas por aqueles que vos adoram.
8 - Venham às nossas libações os deuses universais, ligeiros como os raios solares, vindo com o nascer do dia.
9 - Aceitem o sacrifício os deuses universais, sempiternos, sem malícia, distribuidores de riquezas.
10 - Sarasvati, purificadora do coração, distribuidora de alimentos, doadora de opulência, recompensando o culto que lhe prestam, venha às nossas cerimônias, chamada pelas ofertas que vos dedicamos.
11 - Sarasvati, inspiradora daqueles que amam a verdade e que instrui o homem de espírito reto, aceitou o nosso sacrifício.
12 - Sarasvati, pelos seus atos, manifesta um rio caudaloso e ilumina todas as inteligências.

(2, 1)
(Composto pelo mesmo richi e oferecido a Indra)
1 - Cada dia, invocamos aquele que nos protege com suas boas ações. Nós o chamamos assim como o pastor chama a boa vaca para lhe tirar o leite.
2 - Tu, que bebes o suco do soma, vem aos nossos sacrifícios participar das libações. Distribuis as riquezas e, em verdade, és tu que aumentas os nossos rebanhos.
3 - Reconhecemos seres um dos justos, mais próximos de nós. Vem até onde estamos. Não nos desprezes para te mostrares a outros.
4 - Fiel, dirige-te ao sábio e poderoso Indra, que aos seus amigos concede as melhores bênçãos. Consulta-o a respeito da ciência do oficiante, que receita seus louvores.
5 - Ao celebrarem seus ritos, exclamem nossos oficiantes: “Ímpios, afastai-vos daqui e de onde ele é adorado”.
6 - Destruidor dos inimigos, digam nossos adversários que nós somos felizes. Sejamos elogiados de todos. Possamos gozar da felicidade, que vem dos favores de Indra.
7 - Oferecei a Indra o suco preparado para o sacrifício, honra do sacrifício, e que alegra os mortais. É preferido por Indra, que concede felicidade a quem lhe apresenta oferendas.
8 - Oh Satakrata , quando bebes o suco do soma, combates Vrita e o mata, saindo triunfante desse combate.
9 - Satakrata, poderoso nas batalhas, nós te oferecemos alimentos em sacrifício, a fim de que nos dispenses riquezas.

(2, 2)
Composto pelo richí Madhchhandas e dirigido a Indra.
1 - Apressai-vos, amigos, em vir aqui, oferecendo louvores. Sentai-vos e repeti os louvores a Indra.
2 - Quando se derramar a libação louvai todos, Indra, vencedor de todos os inimigos, distribuidor de muitos benefícios.
3 - Conceda-nos ele o que desejamos, faça-nos adquirir riquezas, ajude-nos a alcançar saber, e venha até nós trazendo-nos alimentos.
4 - Cantai, Indra. Os seus inimigos não esperam pelos corcéis atrelados ao seu carro.
S - Estes puros sucos de soma derramam-se para a satisfação daquela que bebe as libações.
6 - Indra, autor de boas obras, sorvendo a libação, adquiriste de repente maior vigor, permanecendo o maior entre os deuses.
7 - Indra, que louvamos, sejam absorvidos por ti os sucos do soma, que levam à posse de inteligência superior.
8 - Já te glorificaram nos cânticos e hinos, Satacrata. Nossos louvores glorifiquem-te sempre.
9 - Indra, protetor sem rival, goza das nossas ofertas. Nelas estão todas as virtudes fortes.
10 - Indra, a quem louvamos, não permiti que sejamos ofendidos. És poderoso, defende-nos da violência.

(2, 4)
1 - Os chantres do Samaveda festejam Indra em seus cânticos. Os que recitam o Rig celebram-nos em seus hinos. Os leitores do Iajur glorificam-no ao recitarem seus textos.
2 - Aí vem Indra, protetor de todas as coisas. Aí vem com seus corcéis, por sua ordem atrelados com os ricos ornamentos. Aí vem Indra que maneja o raio.
3 - Para fazer todas as coisas visíveis, Indra ergueu o sol no céu e encheu as nuvens de água abundante.
4 - Indra invencível, protegei-nos nas batalhas em que há despojos abundantes. Dá-nos uma defesa insuperável.
5 - Invocamos Indra para dispormos de muitos bens, para que nos faça ricos. É nosso aliado e dispara
o raio contra os nossos inimigos.
6 - Abre as nuvens, tu que derramas as chuvas. Atende aos nossos desejos. Satisfaz sempre os nossos pedidos.
7 - Todos os altos louvores aos outros deuses são também devidos a Indra, que possui o trovão. Não sei de louvor igual à sua grandeza.
8 - Aquele que derrama a chuva, o senhor poderoso, sempre favorável aos nossos pedidos, defende os homens com a sua força assim como um touro protege o rebanho.
9 - Indra só reina sobre as criaturas humanas, dispõe das riquezas e governa as cinco classes de habitantes da Terra (1).
10 - Invocamos Indra em nosso favor, Indra que está por toda parte entre os homens. Que ele nos pertença, seja somente nosso.

(3, 1)
(Pelo mesmo richí)
1 - Indra, que és fonte da vitória, que humilhas os nossos inimigos, para nossa segurança, dá-nos abundantes riquezas.
2 - A fim de com elas podermos rechaçar nossos adversários, nos combates a cavalo ou a pé. Protege-nos, sempre.
3 - Indra, tua proteção é arma temível. Com ela podemos aniquilar nossos inimigos.
4 - Sendo tu nosso aliado, Indra, com o auxílio dos soldados flecheiros, podemos vencer as tropas inimigas, no campo de batalha.
5 - Indra é poderoso e supremo. Ao senhor do raio pertence a grandeza. Seus fortes exércitos se estendem por todo o céu.
6 - Os sábios desejosos de sabedoria, os homens que querem filhos, os guerreiros que recorrem a Indra, nas batalhas, alcançam o que pedem, todas as vezes que invocam Indra.
7 - Como as montanhas regadas pelas torrentes, Indra, está sempre fresco teu ventre, que cresce como o oceano, ao sorveres em abundância o suco do soma.
8 - Em verdade, são sinceras e dignas de respeito as palavras de Indra, a quem o adora. São como o galho carregado de frutos. Elas nos trazem as vacas.
9 - Indra, verdadeiramente, em todo tempo, tuas glórias protegem a quem te adora.
10 - Em verdade, devemos de cantar e recitar os louvores a Indra, para que ele possa sorver o suco do soma.

(3, 4)
(composto pelo richi Setri, filho de Madhachhandra)
1 - Com nossos louvores glorifiquemos Indra, vasto como o oceano, o mais valente dos guerreiros, que combatem em seus carros, senhor do alimento, protetor dos homens virtuosos.
2 - Apoiados em tua amizade, poderoso Indra, nada temos que temer e te glorificamos, vencedor invencível.
3 - Aos que oferecem alimentos e muitas vitimas, aos que entoam hinos, não faltarão a antiga generosidade e a proteção de Indra.
4 - Nasceu Indra para conquistar as cidades. Sempre jovem, sempre sábio, possui força infinita. Protege todas as ações piedosas, recebe inúmeros louvores e maneja o raio.
5 - Senhor do raio, és tu que abres a caverna, onde Vala ocultava os rebanhos. Não mais o temeram os deuses oprimidos, quando obtiveram tua amizade.
6 - Atraído por tua liberalidade, venho a ti, herói. Celebro tua munificência, derramando esta libação. Aproximam-se de ti os que realizam esta cerimônia, pois eles sabem que és dadivoso.
7 - Com os teus ardis, Indra, mataste Sachina . Os sábios conheceram tua grandeza. Concede-lhes alimentos em abundância.
8 - Com todo o coração, louvam a Indra, senhor do mundo, cujos benefícios se contam por milhares e até mais.

(4, 1)
Composto pelo richí Medhatiti, filho de Kanva e oferecido a Agni
1 - Escolhemos Agni, o mensageiro dos deuses, o possuidor de todas as riquezas, aquele que executa esta cerimônia.
2 - Os que apresentam a oferta dirigem suas invocações a Agni, o senhor dos homens. Ele, portador das ofertas, gosta de nós.
3 - Agni, que gera a centelha pela fricção, (2) trazes os deuses até à planta sagrada exposta aqui. Tu invoca-os por nós e assim devemos adorar-te.
4 - Por seres o mensageiro, chama os deuses desejosos de ofertas, senta-te com eles sobre a planta sagrada.
5 - Agni brilhante, que invocamos com libações de manteiga refinada, abate os nossos adversários, cujos defensores são os espíritos malignos.
6 - Agni, sempre jovem, sempre sábio, guardião da morada do sacrificante, és tu que inspiras as palavras do portador das ofertas.
7 - Louvai em vossos sacrifícios Agni, o sábio, o fiel à verdade, o radioso Agni que expulsa as moléstias.
8 - Agni brilhante, protegei o portador das ofertas, que te adora, ó mensageiro dos deuses.
9 - Pavaca, sê propício a quem se aproxima de Agni, apresentando-lhe ofertas agradáveis aos deuses.
10 - Agni, brilhante, purificador, traze os deuses aos nossos sacrifícios e ofertas.
11 - Louvado em nossos hinos mais novos, concede-nos riquezas e alimento, origem da família numerosa.
12 - Agni, que brilhas com puro esplendor, carregado com todas as nossas preces aos deuses, recebe os nossos louvores.

[(1) Cinco classes de habitantes da Terra: 1 - brâmanes (sacerdotes); 2 - kchatriias (monarcas e militares); 3 - vaichiias (comerciantes, agricultores, artesãos); 4 - párias (assalariados que trabalham nos campos e nas cidades); 5 - sudras (indivíduos que não se incluem em nenhuma das quatro classes acima citadas)].
[(2) Gerar a centelha por fricção - Nas cerimônias religiosas, os Arias obtinham a chama pela rápida fricção de dois pedaços da madeira "Premna spinosa". No meio de um desses pedaços, havia uma cavidade na qual se introduzia um bastonete, que se fazia girar rapidamente até a produção de centelhas, avivadas pelo sopro bucal e transmitidas a um molho de erva seca. Obtida a chama, acendia-se a pequena fogueira, em que se consumiam as ofertas, num altar feito de tijolos, empilhados segundo instruções rigorosas e minuciosas].

(4, 5)
(Pelo mesmo richí)
1 - Indra, que aceitas nossos louvores, conduzam-te até aqui os teus corcéis, a fim de beberes o suco do soma. Celebrem tua presença os sacerdotes radiantes como o sol.
2 - Conduzam Indra os seus corcéis a puxarem um carro leve e rápido, quando estas sementes desfeitas em manteiga clarificada estiverem sobre o altar.
3 - Nas cerimônias matinais, invocamos Indra. Invocamo-lo, durante o sacrifício. Convidamos Indra a beber o suco do soma.
4 - Vem, Indra, presenciar nossos sacrifícios com teus cavalos de longas crinas. Nós te invocamos, depois de bebermos a libação.
5 - Aceita nossos louvores, vem aos nossos sacrifícios, para os quais preparamos a libação. Bebe como um cervo sedento.
6 - Derramamos o suco do soma sobre a erva sagrada. Bebe-o, Indra, para seres mais vigoroso.
7 - Que te seja agradável e aceito no coração o nosso canto. Bebe a libação que derramamos.
8 - A fim de beber o suco do soma, Indra, o destruidor dos inimigos, acha-se presente em todas as cerimônias, em que se faz libação do suco do soma.
9 - Satakrata, realiza nossos desejos, dá-nos gado e cavalos, Nós te louvamos com nossa profunda meditação.

(4, 6)
Composto pelo mesmo richí, dirigido a lndra e a Varuna.
1 - Busco a proteção dos senhores soberanos, lndra e Varuna. Que os dois nos sejam favoráveis.
2 - Protetores dos mortais, vós ambos estais dispostos a conceder o amparo solicitado por um oficiante como eu.
3 - Concedei-nos, lndra e Varuna, a riqueza que desejamos. Queremos ter-vos sempre ao nosso lado.
4 - Estão prontas as libações para os nossos atos piedosos e louvores dos nossos sacerdotes puros. Assim, estejamos em companhia daqueles que nos concedem alimentos.
5 - lndra é mais generoso do que os outros deuses cujas generosidades se contam aos milhares. Varuna deve ser louvado entre todos aqueles dignos de elogios.
6 - Graças à proteção de ambos, possuímos e guardamos riquezas, vivendo na abundância.
7 - Eu invoco os dois, lndra e Varuna. Façam-nos ambos vencedores dos nossos inimigos.
8 - lndra e Varuna, trazei-nos logo felicidade. Nossos espíritos são dedicados.
9 - Subam até vós os fervorosos louvores que vos dirigimos, lndra e Varuna. Aceitando os nossos louvores, vós os fazeis preciosos.

(5, 1)
(Composto pelo richí Medhatithi)
1 - Brahmanaspati, faz que assim como é estimado dos deuses Kakshivat, filho de Usi, também o seja quem te oferece as libações.
2 - Seja-nos sempre favorável àquele que extingue as doenças, aumenta as riquezas, dá-nos o alimento e nos favorece com suas recompensas.
3 - Protege-nos, Brahmanaspati! Não nos alcance a calúnia do homem maldoso.
4 - Jamais pereça o homem liberal, a quem protegem Indra, Brahmanaspati e Soma.
5 - Protegei esta criatura, Brahmanaspati, Indra, Dakchina e Soma! Dela afastai o pecado.
6 - A Sadasaspati, o admirável, o amigo de Indra, o desejável, o generoso, eu peço inteligência.
7 - Sem o seu apoio, não se fará o sacrifício, ainda que seja oferecido por um justo. Ele penetra em nosso mais intimo pensamento.
8 - Ele recompensa a quem lhe dá oferendas. Leva o sacrifício à sua conclusão. Por seu intermédio, sobe aos deuses nossa invocação.
9 - Vi Varasana, o mais resoluto, o mais brilhante dos seres, radioso como o céu.

(5, 2)
Composto pelo mesmo richí, dirigido a Agni e aos Maruts
1 - Fervorosos, nos te rogamos que assIstas a este sacrifício perfeito, Agni. Vem em companhia dos Maruts beber o suco do soma.
2 - Não há deus nem mortal que domine o sacrifício, consagrado a ti, deus poderoso. Vem, Agni, em companhia dos Maruts.
3 - São todos divinos, sem malícia, sabem provocar a descida das grandes águas. Vem, Agni, com os Maruts.
4 - São bravos, fazem cair a chuva. Ninguém vai além deles em valor. Vem, Agni, vem com os Maruts.
5 - São brilhantes, têm formas que atemorizam, possuem grandes riquezas, devoram seus inimigos. Vem, Agni, vem com os Maruts.
6 - São deuses residentes no céu, acima do sol. Vem, Agni, vem com os Maruts.
7 - Dispersam as nuvens, agitam o mar, levantam as vagas. Vem, Agni, com os Maruts.
8 - Estou derramando os sucos doces do soma para serem bebidos por vós como outrora. Vem, Agni, vem com os Maruts.

(5, 4)
l - Estou invocando Indra e Agni, aos quais desejamos apresentar nossos louvores. Aceitem esta libação, eles que sorvem grandes quantidades de soma.
2 - Mortais, louvai Indra e Agni, nos sacrifícios. Ornai-os de enfeites, celebrai-os em vossos hinos.
3 - Invocamos Indra e Agni, para o bem do nosso amigo que mandou celebrar esta cerimônia. Aos que bebem o suco do soma, nós convidamos a participar desta libação.
4 - Nós os convidamos a comparecerem, nesta cerimônia, em que se acha preparada a libação. Nós convidamos os que são temidos por seus adversários. Indra e Agni, vinde aqui.
5 - Indra e Agni, poderosos, protetores desta reunião, anulai os malefícios dos Rakchasas. Sejam estéreis os devedores de homens.
6 - Indra e Agni, por este sacrifício, sede vigilantes em nossa defesa. Dai-nos a ciência dos efeitos de nossas ações, concedei-nos felicidade.

(5, 5)
Composto pelo richí Medatiti, filho de Kanva, e dirigido a diversas divindades
1 - Despertem os Asvins, juntos para o sacrifício da manhã. Venham os dois aqui beber o suco do soma.
2 - Nós invocamos os dois Asvins, ambos divinos. Guiando bem o seu carro celeste, eles alcançam o céu.
3 - Asvins, animai a chama do sacrifício com o vosso chicote, umedecido na escuma da boca dos vossos cavalos.
4 - Não está longe de vós a morada de quem vos oferece o sacrifício. Vinde em vosso carro.
5 - Eu rogo a Savitri (3) que me proteja com as suas mãos douradas. Ele determinará o lugar daqueles que o adoram.
6 - Glorificai Savitri, que não é amigo da água. Implorai sua proteção. Desejamos celebrar o seu culto.
7 - Invocamos Savitri, que ilumina a humanidade e concede a opulência.
8 - Sentai-vos, amigos. É justo louvarmos Savitri. Ele dá-nos riquezas.
9 - Agni, traz-nos aqui as queridas esposas dos deuses e Tvastri, para beberem o suco do soma.
10 - Jovem Agni, traz aqui para proteger-nos as esposas dos deuses - Hotras, Bharati, Vavatri e Dischana. (4)
11 - As deusas de asas perfeitas, protetoras da raça humana, concedam-nos sua proteção e inteira felicidade.
12 - Convido-vos a virem aqui, Indra, Varuna, Agni para a nossa felicidade e para beberdes o suco do soma.
13 - O vasto céu e a terra umedeçam com seu orvalho este sacrifício e nos dêem alimentos.
14 - Onde reina Gandarva, os sábios colhem pelas suas preces o leite do céu e da terra.
15 - Terra limpa de espinhos, estende-te ao longe, sê a nossa morada, concede-nos grande felicidade.
16 - Protejam-nos os deuses na terra de onde se levantou Visnú, animado pelas nossas sete orações.
17 - Visnú atravessou o mundo. Três vezes firmou o pé e o mundo inteiro uniu-se no pó.
18 - Protetor invencível, Visnú vigia dos deveres sagrados, deu três passos e terminou seu caminho.
19 - Vede as ações de Visnú, pelas quais o devoto cumpriu votos piedosos. Ele é o digno amigo de Indra.
20 - O sábio contempla sempre esta suprema parada de Visnú, assim como o olhar percorre o céu.
21 - O sábio, sempre vigilante e solícito, acende o fogo do sacrifício, e em seus cânticos glorifica a suprema estação de Visnú.

[(3) Savitri é um dos epítetos do sol. O epíteto daquele que tem uma das mãos de ouro - suvama-hasta - explica-se pela liberalidade com que Savitri dá ouro aos que lhe dirigem preces. Também, segundo uma lenda, durante um sacrifício em que os deuses oficiavam. Suria - o sol -, não se colocou no lugar devido e tocou em uma das ofertas. Sua mão foi cortada, mas os sacerdotes conseguiram substitui-Ia por uma postiça, feita de ouro. Vide GLOSSÁRIO. Quanto aos passos de Visnú, a lenda refere-se ao ato de criação do mundo executado em três passos dados pelo deus no espaço celeste, o primeiro correspondente ao nascer do dia, o Segundo marcando o meio-dia, e o terceiro indicando o ocaso, fim do percurso do sol pelo firmamento].
[(4) Hotras, Bharati, Vavatri, Dischana - nomes de esposas de brâmanes oficiantes].

(6, 1)
Hino atribuído a Sunassepas, filho de Ajigarta e dirigido a diversas divindades
1 - Qual a divindade cujo nome propício invocamos? Quem me entregará à grande Aditi, a fim de que eu reveja meu pai e minha mãe?
2 - Invoquemos o nome propício de Agni, a primeira entre as divindades imortais, para que ele me entregue à grande Aditi. Assim poderei rever meu pai e minha mãe.
3 - Savitri, cuja proteção é constante, nós te pedimos o quinhão que nos cabe. És o senhor da abundância.
4 - Esta riqueza que guardaste em tuas mãos! merece elogios por estar limpa de inveja e de reprovação.
5 - Nós nos esforçamos por atingir o cimo da abundância, graças à tua proteção. És o possuidor das riquezas que dão felicidade.
6 - As aves que voam pelo céu não têm, Varuna, a tua força, a tua audácia. São incapazes de suportarem tua cólera. As águas velozes e o vento incessante não te excedem em rapidez.
7 - O real Varuna, dotado de puro vigor, morador no firmamento sem alicerce, empunha um feixe de luz, cujos raios vêm para baixo, enquanto sua origem está em cima. Concentrem-se em nós esses raios, fontes de vida.
8 - O real Varuna, verdadeiramente, alargou a estrada do sol, que todos os dias percorre o espaço sem limites. Que ele afaste de nós tudo quanto afligir nosso coração.
9 - Ó rei, possuis muitos remédios aos nossos males. Esteja conosco a tua benevolência. Afasta de nós Nirita, de olhar colérico. Livra-nos de todos os pecados que teríamos de cometer.
10 - As constelações luminosas à noite, invisíveis durante o dia, são as obras sagradas de Varuna. Por sua ordem, a lua move-se brilhante à noite.
11 - Louvando-te com minhas preces fervorosas, imploro-te concederes a vida ao oficiante que te dirige um pedido com suas ofertas. Cuida de nós, Varuna, deixa-nos viver, tu a quem se dirigem constantes louvores.
12 - Dia e noite, os oficiantes repetem os teus louvores. Liberte-nos o real Varuna, assim como libertou Sunassepas (5) cativo, que o invocou.
13 - Sunassepas, preso, amarrado, na árvore de três pés, invocou o filho de Aditi. Possa libertá-lo o real Varuna, sábio, irresistível, e quebrar-lhe os grilhões.
14 - Varuna, prosternando-nos no chão, oferecendo-te sacrifícios e dádivas, desejamos afastar a tua cólera. Tu, que és sábio e ilustre, expulsas a desgraça. Permanece entre nós, abranda os males que cometemos.
15 - Varuna, desfaz os laços que nos prendem a cabeça, os pés, a cintura. Limpos dos nossos erros, no culto que te dedicamos, filho de Aditi, estaremos livres do pecado.

[(5) Personagem mítico cuja estória, em diferente versão, é narrada no Ramaiana, no Mahabarata, e nos Puranas. No Rig, lêem-se sete hinos relativos a Sunassepas. Segundo o Ramaiana, Ambarischa, rei de Aiodia, estava presenciando um sacrifício, quando o deus Indra arrebatou-lhe a vítima. O oficiante entendeu que essa perda só poderia ser compensada pelo sacrifício de uma vítima humana. Depois de longa procura da vítima, o rei encontrou um brâmane richí, que vendeu o seu filho mais moço, Sunassepas, por 100.000 vacas, 10.000 .000 de moedas de ouro e cestos de jóias. No caminho para o sacrifício, Sunassepas encontrou seu tio Visvamitra, que lhe ensinou dois versos para serem recitados durante o sacrifício. Quando foi amarrado à estaca, para ser imolado, Sunassepas, invocando Visnú e Indra recitou os dois versos. Assim obteve a intervenção dos dois deuses que o livraram da morte. A lenda em sua parte final apresenta analogia com a de Isaac e seu pai Abraão, que ia sacrificá-lo ao caprichoso deus bíblico, Iavé].

(6, 6)
Composto pelo richí Sunassepas e dirigido a Indra.
1 - Verdadeiro bebedor do suco do soma, Indra,
cuja riqueza é infinita, embora sejamos indignos, dá-nos milhares de cavalos e de vacas leiteiras.
2 - Belo e poderoso senhor do alimento, tua benevolência é constante. Indra, cuja riqueza é infinita, dá-nos milhares de cavalos e de vacas leiteiras.
3 - Mergulha no sono as duas mensageiras de lama, que se olham uma à outra. Elas dormem sempre, Indra, cuja riqueza é infinita, dá-nos milhares de cavalos e de vacas leiteiras.
4 - Adormeçam os nossos inimigos, despertem os nossos amigos. Indra, cuja riqueza é infinita, dá- -nos milhares de cavalos e de vacas leiteiras.
5 - Indra, aniquila este burro, nosso adversário, que te louva com uma voz odienta. Indra, cuja riqueza é infinita, dá-nos milhares de cavalos e de vacas leiteiras.
6 - Que o vento leve a tempestade, deixando-a cair na floresta. Indra, cuja riqueza é infinita, dá-nos milhares de cavalos e de vacas leiteiras.
7 - Destrói os nossos agressores, matando todos aqueles que nos fazem mal. Indra, cuja riqueza é infinita, dá-nos milhares de cavalos e de vacas leiteiras.

(7, 5)
Composto pelo richí Hiraniasfupa e dirigido a Savitri
1 - Rogo a proteção de Agni, de Mitra, de Varuna. Invoco a noite que traz descanso ao mundo. Peço ao divino Savitri que me proteja.
2 - O divino Savitri, girando pelo firmamento escurecido, despertando os mortais, e os imortais, viaja em seu carro de ouro e contempla os diversos mundos.
3 - O divino Savitri viaja por uma estrada que sobe e desce. Digno de adoração, ele viaja com dois cavalos brancos e vem aqui, anulando todo os pecados.
4 - O adorável Savitri de muitos raios, que tem, o poder de expulsar as trevas do mundo, subiu em seu carro com ornatos e varais de ouro.
5 - Seus corcéis de patas brancas, atrelados ao carro com um jugo de ouro, trouxeram a luz aos homens. Todos os mortais e todas as terras estão sempre na presença do divino Savitri.
6 - As esferas* são três: duas vizinhas de Savitri, outra conduz os homens à morada de lama.
7 – Suparna (6), de movimentos rápidos, doador de vida, iluminou os três mundos. Agora, onde está Suria? Quem sabe até onde se estenderam seus raios?
8 - Ele iluminou os oito pontos do horizonte, as três regiões dos seres vivos, os sete rios. Venha até aqui, Savitri dos olhos de ouro, concedendo riquezas apreciáveis a quem lhe dedicar uma oferta.
9 - Savitri dos olhos de ouro, que tudo vê, viaja entre as duas regiões do Céu e da Terra. Ele expulsa as doenças e aproxima-se do sol.
10 - Savitri da mão de ouro, doador de vida, nos- so guia, opulento, que nos traz alegria, esteja presente ao sacrifício. Se nós o adoramos à noite, o deus está perto de nós, expulsando os Rakchasas e Iatadanas.

[Três esferas: de acordo com os Vedas, as duas vizinhas de Savitri são o firmamento e a superfície terrestre. A outra que conduz à morada de Yama, o deus da morte, é o subsolo].
[(6) "Suparna"; raio solar].

(8, 6)
Composição de Kanva e dirigido a diversas divindades.
1 - O homem protegido de Varuna, Mitra e Ariaman, subjuga prontamente seus inimigos.
2 - Quem for beneficiado por eles com riquezas que parecem provenientes do trabalho; quem for por eles protegido contra os malvados nada há de temer, pode ter a certeza de que vai prosperar.
3 - Os reis - Varuna, Mitra, Ariaman -, destroem os inimigos daqueles que os adoram e afastam os efeitos das más ações.
4 - Aditias, que vinde aos sacrifícios, o vosso caminho é fácil e sem espinhos. Aqui não se faz oferta indigna de vós.
5 - Aditias, seja para vós motivo de satisfação o sacrifício ao qual vindes por um caminho reto.
'6 - O mortal a quem favoreceis, livre do mal, obtém preciosas riquezas e descendentes, que lhe são semelhantes.
7 - Amigos, como iremos recitar louvores dig- nos da glória deslumbrante de Mitra, de Varuna, de Ariaman?
8 - Eu não recomendo o homem que insulta um devoto dos deuses. Cuido, sim, de obter a vossa benevolência, apresentando-vos as minhas ofertas.
9 - O vosso adorador não gosta de falar mal de quem quer que seja. Ao contrário, receia a maledicência como o jogador teme o adversário, antes do lance dos quatro dados.

(8, 7)
Composto pelo mesmo richí e dirigido a Puschan.
1 - Puschan, sê nosso guia neste caminho. Afasta o malvado. Filho da nuvem, anda à nossa frente.
2 - Se um pérfido inimigo, um ladrão, um malvado, indicar-nos a estrada por onde não devemos andar, afasta-o do caminho.
3 - Expulsa da estrada quem pretender impedir nossa viagem, o ladrão e o mentiroso.
4 - Pisa com teus pés o corpo do ladrão mal intencionado, quem quer que seja, astuto ou violento.
5 - Sagaz e belo Puschan, pedimos a proteção que dispensaste aos patriarcas.
6 - Tu, que és opulento e possuis armas de ouro, concede-nos riquezas que possam ser distribuídas com liberalidade.
7 - Afasta-nos dos nossos adversários, conduz-nos por um caminho fácil. Puschan, protege-nos durante esta viagem.
8 - Leva-nos aonde houver forragem abundante e durante nossa viagem evita-nos o grande calor.
9 - Sê favorável, dá-nos abundância, tudo quanto é bom, fortifica-nos, enche-nos o ventre. Puschan, protege-nos durante nossa viagem.
10 - Não censuramos Puschan. Nós o festeja- mos em nossos cânticos, nós lhe imploramos riquezas.

(9, 5)
Composição do richí Prascanva, dirigida a Ushas.
1 - Ushas, filha do céu, faz que brilhem riquezas sobre nós. Tu, que derramas a luz, traz-nos alimentação abundante e rebanhos.
2 - Possuidoras de muitos cavalos e vacas, distribuindo toda espécie de riquezas, as deusas da manhã dispõem de tudo quanto for necessário às moradias dos homens. Ushas, diz doces palavras, envia-nos a opulência.
3 - A divina Ushas reside nos céus. Possa brilhar hoje aquela que move os carros atrelados à sua vinda, assim como os ambiciosos de riquezas despacham navios para o mar.
4 - Ushas, quando chegas, os sábios pensam nas homenagens que te são devidas. O sábio Canva proclama os méritos desses homens.
5 - Ushas, que nutres todos os seres, vem cada dia como a mãe de família que dirige os serviços do lar. A sua chegada, levantam-se os animais, despertam os pássaros.
6 - Ela anima os homens diligentes, e envia os empregados aos seus patrões. Derrama o orvalho e não se atrasa. Tu concedes o alimento e quando chegas os pássaros não fogem.
7 - Ushas dispõe ao longe de um carro acima do horizonte onde nasce o sol. Surge gloriosamente com mais de cem carros.
8 - Adoram-na todos os seres vivos, a fim de que ela seja visível e ilumine o mundo, trazendo o bem para todos. A opulenta filha do céu expulsa os maus e afugenta os seres que absorvem a umidade.
9 - Brilha, Ushas, estende em torno de ti uma claridade benéfica todos os dias, concede-nos felicidade, dissipando as trevas.
10 - Quando apareces, tu, portadora de bens, acolhes o alento e a vida de todas as criaturas. Aproxima-te de nós em teu grande carro, tu, possuidora de maravilhosa opulência.
11 - Ushas, aceita os vários alimentos oferecidos pelas criaturas humanas. Conduz a esta cerimônia os homens piedosos, que te louvam apresentando-te ofertas.
12 - Ushas, traz do alto do céu todos os deuses a fim de beberem o suco do soma. Distribui entre nós alimento sadio e fortificante. Dá-nos reses e cavalos.
13 - Ushas senhora de raios brilhantes e benéficos, visíveis, concede-nos as desejadas riquezas, fáceis de se obterem.
14 - Adorável Ushas, que os antigos sábios invocavam para obterem proteção e alimento, tu que brilhas com pura claridade, aceita nossas ofertas e louvores.
15 - Ushas, por teres hoje aberto as portas do céu, iluminando-as, concede-nos moradia espaçosa e firme; deusa concede-nos gado e alimento.
16 - Adorável Ushas, dá-nos a posse de abundantes riquezas. Dá-nos rebanhos numerosos, fama, para que se confundam nossos inimigos.

(10, 6)
Composto pelo richí Suria e dirigido a Indra.
1 - lndra voraz levantou-se com o ardor do cavalo a aproximar-se da égua, a fim de participar das abundantes libações do sacrifício. Deteve seu carro esplêndido e bem atrelado. Ele, que se distingue pelos atos heróicos, participa da libação.
2 - Trazendo ofertas, os seus adoradores rodeiam-no, como se fossem mercadores ávidos de ganho, em torno de navios em que irão atravessar o oceano. Venham logo, entoando louvores ao poderoso lndra, protetor do sacrifício solene. Venham como se fossem mulheres a subirem um monte para a colheita de flores.
3 - Ele é poderoso e rápido em suas ações. Nos combates, a sua bravura destrutiva brilha ao longe tal como o cimo de um monte. Revestido de armadura de ferro, derrotou o astucioso Susna.
4 - Uma força divina acompanha lndra como o sol acompanha a aurora. Ele espanca os inimigos rudemente, e por isso estes soltam altos gritos.
5 - lndra, quando distribuíste pelo céu as águas (7), sustentáculo da vida, as águas ocultas, animado pelo suco do soma, correste ao combate e soltaste do alto um oceano de águas.
6 - Poderoso Indra, fizeste descer do céu sobre a terra a chuva, sustentáculo do mundo. Animado pelo suco do soma, liberaste as águas e esmagaste Vrita sob um rochedo.

[(7) Os versículos 5 e 6 referem-se à lenda do combate entre o deus lndra e o demônio Vrita. Manejando o raio, lndra matou Vrita, que aprisionara as nuvens nos cumes das montanhas, impedindo que elas se derramassem como chuva sobre os campos semeados. Indra é um dos deuses maiores do panteão hindu e corresponde ao Júpiter Tonante dos romanos].

(12, 2)
Composição de Garasura, filho de Sacti, e dirigido a Agni.
1 - Agni é como um tesouro maravilhoso, como o sol que vê tudo, como o alento vital, como o filho respeitoso, como o corcel montado por um cavaleiro, como a vaca leiteira. Agni, puro, radiante, consome
as florestas.
2 - Protege as moradias, destrói os inimigos, louva os deuses e como um cavalo árdego corre ao combate. Assim ele vai à sala dos sacrifícios. Que ele nos conceda o alimento.
3 - Agni, com esplendor incomparável, e semelhante do sacrificante. Enfeita a sala dos sacrifícios assim como uma mulher ornamenta a casa. Quando brilha com seu esplendor maravilhoso, é como um sol ou com um carro de ouro rodeado de gente.
4 - Ele espanta os adversários como o exército que investe contra o inimigo ou como a flecha de ponta brilhante, disparada por um arqueiro. Agni, tal como lama, é tudo o que recebeu e receberá de nascimento, o amante das virgens, o marido das mulheres.
5 - Aproximemo-nos de Agni resplendente, trazendo nossas ofertas, como as vacas que se apressam a entrar nos estábulos. Soltou a sua chama em várias direções, como se fossem torrentes de água. Seus raios confundem-se com o esplendor do céu.

(13, 2)
Composto pelo richí Gotama, filho de Raugana, e dirigido a Agni.
1 - Tu, que fazes propícios os deuses, que aceitas em tua boca as nossas ofertas, ouve minhas preces fervorosas.
2 - Agni, muito sábio, chefe dos Angiras, podemos dirigir-te uma prece que te agrade?
3 - Agni, quem é teu parente entre os homens? Quem é digno de oferecer-te um sacrifício? Quem és tu? Onde resides?
4 - Adora por nós Mitra e Varuna. Adora por nós todos os deuses. Oferece-lhes um grande sacrifício. Estejas presente em tua própria morada.

(13, 5)
Composto pelo richí Gotama e dirigido a Agni.(8)
1 - Tu que conheces e vês tudo quanto existe, Agni, Gotama louva-te a cultura. Nós te glorificamos com nossos hinos.
2 - Agni, Gotama, desejoso de obter riquezas, louva-te, adora-te. Nós te glorificamos com os nossos hinos.
3 - És o doador de alimentação abundante. Nós te invocamos da mesma maneira como Angiras te invocou. Nós te louvamos e glorificamos com nossos hinos.
4 - Nós te celebramos, tu que aniquilaste Vritra e afugentaste os Dassias.
5 - Os descendentes de Rahagana disseram doces palavras a Agni. Nós o louvamos com os nossos hinos.

[(8) Este hino oferece um exemplo de cântico em que há um refrão cantado pelos sacerdotes oficiantes. Dassias ou Dassius são entidades maléficas, inimigas dos deuses e dos homens. São representados como negros e provavelmente simbolizariam os povos nativos da Índia, aniquilados pelos invasores Árias ou reduzidos à servidão, constituindo uma das. camadas dos "sudras"].

(13, 8)
Composto pelo richí Gotama
1 - O culto que lhe prestavam os homens contentou e robusteceu Indra, o vencedor de Vrita. Nos grandes e nos pequenos combates nós o invocamos. Seja êle nosso defensor, nas batalhas.
2 - Herói, vales por todo um exército. És o dispensador dos despojos abundantes. Exaltas o humilde mortal. Concedes riquezas a quem te adora e te apresenta ofertas, pois é grande a tua opulência.
3 - Nas batalhas, cabe a riqueza ao vencedor. Atrela os teus cavalos, que abatem o orgulho do inimigo. Assim, destruirás um e enriquecerás outro. Concede-nos, Indra, a abundância.
4 - Poderoso pelo efeito dos sacrifícios, formidável para os seus inimigos, Indra, aumentou sua fôrça. É agradável seu aspecto, tem um belo queixo e possui brilhantes corcéis. Empunha o raio de ferro com suas mãos, que distribuem a prosperidade.
5 - Com sua glória, encheu toda a vastidão da terra e o firmamento. Fixou as constelações, no céu. Jamais, ninguém como tu recebeu ou receberá a luz. Sustentaste o universo.
6 - Dá-nos o alimento que concedes a quem te oferece sacrifícios, Indra protetor. Distribui tuas riquezas, de modo que eu também receba minha parte.
7 - Dá-nos rebanhos o oficiante dos atos piedosos, quando se alegra com as nossas libações freqüentes. Indra, toma nas duas mãos, muitos tesouros, esclarece nossa inteligência, traz-nos riquezas.
8 - Goza conosco da libação, feita para o aumento de nossa fôrça e da nossa riqueza. Sabemos que possuis vastos tesouros. Manifestamos nossos desejos. Sê nosso protetor.
9 - Indra, tuas criaturas sentem prazer no sacrifício em que elas tomam parte. Senhor de tôdas as coisas, sabes quais são as riquezas dos homens, que não te fazem oferendas. Traze-nos os seus bens.

(13, 10)
Composto pelo richí Kutsa e dirigido a Indra
I - Outrora os sábios dispunham do poder supremo, Indra, como se estivesses entre eles. Uma luz. brilha na Terra, outra no Céu. As duas unidas parecem uma bandeira.
2 - Ele estendeu e sustentou a Terra. Bateu nas nuvens e delas tirou as águas. Matou Ahi, traspassou Rauhina e com sua coragem destruiu Vrita.
3 - Armado com seu raio, confiante em sua força, ele foi destruir as cidades dos Dassias. Tu que possuis o raio, acolhe as preces daqueles que te adoram. Protege-os, atirando o teu dardo sobre os Dassias. Aumenta o vigor e o poder dos Arias.
4 - Magavan, seja glorificado o teu nome. No decurso dos séculos de existência da humanidade, protege quem te louva. O senhor do raio, vencedor dos inimigos, foi combater os Dassias e por suas façanhas gloriosas obteve um nome afamado.
5 - Vede o imenso e irresistível poderio de Indra. Confiai em seu valor. Ele recuperou o gado, os cavalos, as plantas, as águas e as florestas.
6 - Nós oferecemos libações de soma a quem realizou muitas ações, ó melhor dos deuses, aquele que distribui benefícios, possuidor de verdadeira torça, o herói que, sabendo do valor da riqueza, tira-a de quem não celebra o sacrifício, assim como o ladrão toma o dinheiro de um viajante e o dá à pessoa que oferece um sacrifício.
7 - Executaste Indra uma ação gloriosa, quando despertaste com teu Ahi sonolento. Foste louvado pelas esposas dos deuses, pelos Maruts, por todas as divindades.
8 - Indra, mataste Susna, Pipru, Cuiava, Vrita(9). Destruíste a cidade de Sambara. Mitra, Varuna, Aditi, concedam-nos o que desejamos.

[(9) Ahi, Rauhina, Susna, Pipru, Cuiava, são nomes de demônios, assistentes de Vrita, que aprisionara as nuvens no cimo das montanhas].

(14, 3)
Composto pelo mesmo rishí.
1 - Maruts, destruís vossos adversários, sois dotado de grande fôrça, soltais altos gritos, participais das oferendas, à noite, brilhais no céu como os raios do sol.
2 - Como os pássaros a voarem em seu caminho no céu, juntais as nuvens pelo firmamento. Caem as águas das nuvens, ao choque dos vossos carros. Derramai a chuva cor de mel, sobre quem vos adora.
3 - Estremece a terra, como a esposa do marido ausente, quando eles juntam as nuvens. Caprichosos, com suas armas brilhantes, sacudindo os rochedos firmes, manifestam eles sua fôrça.
4 - Sempre moços e velozes, conduzidos pelos seus rápidos antílopes, são os Maruts senhores desta terra. Fiéis e perfeitos em vossas promessas, vós que fazeis cair a chuva, sêde os protetores das nossas cerimônias.
5 - Como discípulos do nosso antigo pai, declaramos, por nossa linhagem, ser nossa a palavra das invocações aos Maruts, ao ser derramado o soma. Estiveram ao lado de Indra, encorajando-o na luta e assim adquiriram nomes, que devem de ser recitados nos sacrifícios.
6 - Para a nossa felicidade, eles uniram-se aos raios do sol e de boa vontade fizeram derramarem-se as chuvas. Celebrados nos hinos dos oficiantes, eles participaram com prazer do alimento oferecido no sacrifício. Velozes, intemeratos, apoderaram-se de uma agradável moradia, verdadeiramente, digna deles.

(14, 5)
Composto pelo mesmo richí.
1 - A fim de nos assegurarmos da vitória sobre nossos inimigos, celebrem-se, em toda parte, cerimônias agradáveis aos deuses, sem distúrbios e sem obstáculos. Sempre em nossa companhia, favorecendo-nos com sua proteção, todos os dias, jamais se afastem os deuses de nossa convivência.
2 - Sejam os deuses benevolentes para conosco. Dêem-nos sua amizade. Dignem-se de favorecer,nos com uma longa existência.
3 - Recitando um hino antigo, invocamos Bhaga, Mithra, Aditi, Daksha, Ashridi, Aryaman, Varuna, Soma, e os Aswins. Conceda-nos Sarasvati a felicidade.
4 - Traga-nos o vento seu doce remédio. A terra, nossa mãe, o céu, nosso pai, as pedras com que se faz o suco do soma, que nos alegra, dêem-nos seu remédio. Aswins, dignos de honras, ouvi nossas súplicas.
5 - Invocamos Indra, o senhor dos seres vivos, que as cerimônias piedosas dispõem em nosso favor. Pushan foi sempre nosso defensor e sempre aumentou nossas riquezas. Continue ele a zelar pela nossa tranqüilidade.
6 - Indra, a quem se dirigem numerosos louvores, zela por nosso bem estar e também Pushan, conhecedor de todas as coisas. Vele por nosso bem estar Tarkshya cujas armas são irresistíveis.
7 - Venham socorrer-nos em companhia de todos os deuses os Maruts cujos corcéis são antílopes malhados, filhos de Prisni, presentes nos sacrifícios, sentados na língua de Agni, brilhantes como o sol.
8 - Ouçamos, deuses, o que é agradável. Nós vos cultuamos no sacrifício, vejamos o que é belo. Ocupados em vossos louvores, possamos, ágeis e vigorosos, gozar da existência, até o seu fim, marcado pelos deuses.
9 - Cem anos foram fixados para a existência de um homem. Na metade da nossa existência, deuses, não nos molesteis com as doenças, para que nossos filhos não sejam nossos senhores.
10 - Aditi é o céu. Aditi é o firmamento. Aditi é a mãe, o pai, o filho. Aditi é todos os deuses. Aditi é as cinco classes de homens. Aditi é a geração e o nascimento.

(16, 2)
Composto por Kutska
1 - Que os nossos sacrifícios dêem satisfação aos deuses. Sêde-nos favoráveis, Adityas, e bem intencionados para conosco, a fim de que sejamos abundante fonte de bem estar para os pobres.
2 - Venham aqui proteger-nos os deuses, que desejam entoar os hinos dos Agirasas. Concedam-nos a felicidade que lhes pedimos, Indra com seus tesouros, os Maruts com o sopro do ar que dá vida, Aditi e os Adityas.
3 - Tragam-nos o alimento, que lhes pedimos, Indra, Varuna, Agni, Aryaman e Savitri. Mantenham -nos em sua posse, Mitra, Varuna e Aditi.

(16, 6)
Composto pelo richí Cutsa e dirigido aos Ribús
1 - Os Ribús, muito hábeis em seus trabalhos, constituíram um carro maravilhoso para os Asvins, formaram os vigorosos corcéis de Indra, restituíram a mocidade aos seus progenitores e também a um bezerro fizeram voltar a vaca mãe dele.
2 - Preparai um alimento resplandecente para o nosso sacrifício. Preparai para as nossas cerimônias e para nos fortificarem alimentos que sejam a causa de uma posteridade numerosa, a fim de vivermos rodeados de descendentes vigorosos. Concedei-nos riquezas que nos façam felizes.
3 - Ribús, condutores do sacrifício, concedei amplos meios de subsistência a nós e aos nossos cavalos. Reconheça toda gente, cada dia, nossa opulência vitoriosa. Possamos vencer aos nossos inimigos em todos os combates.
4 - Invoco a proteção do poderoso Indra. Convido os Ribús, os Vajas, os Maruts, a beberem o suco do soma. Invoco também Mitra, Varuna e os Asvins. Conduzam-nos eles à opulência, aos ritos sagrados e à vitória.
5 - Concedam-nos os Ribús a opulência que assegura o êxito na guerra. Proteja-nos Vaja, vitorioso nos combates. Mitra, Varuna e Aditi acolham es nossas preces.

(16, 8)
1 - Surgiu o mais excelente de todos os astros. Assim como a noite, que descende do sol, chegou o ser admirável que aclara todas as coisas.
2 - Chegou a aurora, em seu alvo esplendor, a mãe do sol. A noite sombria recolheu-se à sua morada. Imortais, elas acompanham o sol, sucedendo uma à outra. Ao caminharem, uma depois da outra, pelo firmamento, esmaecem suas cores.
3 - É infinda a estrada percorrida por essas irmãs, guiadas pelo sol radiante, uma em pós da outra. Embora diferentes no aspecto, a noite e a aurora se harmonizam em suas intenções. Jamais são inativas, não perturbam, uma à outra, fazem nascer todas as coisas.
4 - Guia resplandecente dos que falam a verdade, é-nos visível a aurora multicor. Abriu nossas portas e, ao iluminar o mundo, mostrou-nos nossas riquezas. Restituiu-nos Ushas todas as terras, que a noite havia engolido.
5 - A aurora opulenta desperta e anima para o trabalho o homem deitado no sono. Chama este aos prazeres, aquele à devoção, outro à busca de riquezas. Fez que tudo vissem, claramente, aqueles que se achavam quase cegos. Ushas restituiu todas as terras à luz.
6 - A aurora desperta um homem para que ele ganhe dinheiro, outro para que obtenha sua refeição: aquele para celebrar os sacrifícios. Ilumina todos os homens, para que se apliquem às ocupações de que tiram seu sustento. Ushas restituiu todas as terras à luz.
7 - Aparece e logo dissipa as trevas, a jovem filha do céu, vestida de roupagem branca, a senhora de todos os tesouros da terra. Hoje, nesta sala dos sacrifícios, Ushas, estás brilhando sobre nós.
8 - Seguindo os passos das manhãs, que se foram, a de hoje, primeira entre todas as manhãs inumeráveis, ainda por virem, Ushas que desfaz as trevas, reanima os seres vivos, acorda todos os que estavam deitados como os mortos.
9 - Ushas, prestaste bons serviços aos deuses, pois acendeste o fogo sagrado, iluminaste o mundo, com o clarão do sol, despertaste os homens para que celebrem sacrifícios.
10 - Desde quando vem nascendo a aurora? Até quando irá surgindo? Desejosa de nos trazer a luz, Ushas prossegue com as mesmas ações das auroras passadas. Hão de imitá-la as que depois vierem e possuírem o mesmo esplendor.
11 - Foram-se os mortais que viram outrora o esplendor de Ushas. Agora, somos nós que a vemos e já se aproximam aqueles que a verão, nos tempos futuros.
12 - Estão se afastando os seres hostis aos atos piedosos, por ser ela a protetora dos ritos sagrados. Traz felicidade, gera palavras de alegria e aos deuses oferece alimento. Agora, Ushas está iluminando a sala.
13 - Nos tempos passados, brilhava sem cessar a divina Ushas. Fonte de riqueza, levanta-se ela ainda sobre o mundo. No futuro, continuará trazendo-nos a luz, porquê não envelhece, não morre, sempre goza de sua claridade.
14 - Com seus raios, a divina Ushas ilumina várias regiões do céu. Despe o semblante da tristeza que o velava e, despertando os que dormem, vem ela em seu carro, puxado
pelos corcéis vermelhos.
15 - Trazendo benefícios que sustentam a vida e reanimam o gosto à existência, naqueles que não o sentem mais, ela derrama sobre o universo o seu esplendor admirável. É igual às auroras que a precederam, igual às que sempre lhe sucederão.
16 - Levanta-te, renasce a existência. Desapareceu a escuridão. Aproxima-se a luz. Ushas abriu o caminho do sol. Vamos aonde se encontram os que distribuem alimentos.
17 - Quem oferece louvores, quem recita louvores, repetindo palavras bem feitas, celebra Ushas, a resplandecente. Tu, que és senhora da abundância, hoje, ilumina a quem te louva. Concede-nos alimentos.
18 - Quem oferece a libação, ao terminar suas preces, recitadas com a rapidez do vento, possa obter a complacência destas filhas de Ushas, que distribuem cavalos, rebanhos, descendentes, e derramam luz sobre os mortais que lhes apresentam oferendas.
19 - Rival de Aditi, mãe dos deuses, iluminas o sacrifício, poderosa Ushas. Brilha, derrama sobre nós teu esplendor, aceita nossas preces. Tu, amada de todos, faz que sejamos eminentes entre os povos.
20 - Para quem recita os louvores, para o sacerdote, são benefícios todos os tesouros doados pelas filhas de Ushas. Sejam favoraveis às nossas preces, Mitra, Varuna e Aditi.

(21, 10)
Composto pelo Rishi Dirghatamas.
1 - Agni, opulentíssimo, que atendes aos pedidos dos teus adoradores, vem ao local do sacrifício. O senhor dos senhores dirige-se ao altar, onde existe abundância. Quando ele se aproxima, os sacerdotes lhe preparam libações.
2 - Aquele a quem os homens, o céu e a terra devem a existência, reside perto de nós, rodeado de sua glória. Ele é quem gera todas as criaturas.
3 - Aquele que é sábio e, como o vento rápido, velozmente, se dirige aonde quer, iluminou o delicioso local do altar. Sempre o mesmo, apresenta-se sob muitas formas e é radiante como o sol.
4 - Aquele que nasceu duas vezes, que ilumina as três regiões brilhantes, que reluz acima de todas as esferas esplendidas, conclama os deuses e se acha presente onde se juntam as águas.
5 - Aquele que nasceu duas vezes apresenta as ofertas, desejoso dos alimentos do sacrifício. Tem sob sua guarda todas as coisas preciosas. O homem que lhe apresenta as oferendas é pai de uma geração excelente.

(21, 11)
Composto pelo richí Dirgatamas e dirigido a Agni
1 - Apresentando-te numerosas ofertas, adoro-te, Agni, e venho à tua presença como um servidor se apresenta ao seu senhor poderoso.
2 - Peço-te que negues teus benefícios a dois homens ímpios: o ricaço, que não te reconhece por senhor, é avarento nos donativos, durante as cerimônias sagradas, e também o homem que raramente louva os deuses.
3 - Sábio Agni, quem obtiver tuas boas graças, torna-se lua no céu, a mais eminente entre as grandes deidades. Possamos sempre. adorar-te com fervor.

(21, 16)
Composto pelo richí Dirgatamas, dirigido a Visnú e Indra
1 - Oferecei estes alimentos substanciais ao poderoso herói - lndra - , que aprecia o louvor e Visnú. (10) Estas duas divindades invencíveis estão no radioso cimo das nuvens como se montassem em um corcel bem adestrado.
2 - lndra e Visnú, o homem piedoso que vos adora, glorifica a vossa radiosa aproximação. Vós satisfazeis os desejos e concedeis recompensa imediata ao mortal que vos adora, distribuindo este fogo que produz abundantes benefícios.
3 - Estas ofertas aumentam a poderosa energia de lndra. Ele dá fecundidade ao céu e à terra, ambos genitores de todas as coisas. Assim, na região superior do firmamento, o filho tem um nome superior e outro inferior, além de um terceiro nome: o de pai.
4 - Celebramos o poderio deste senhor de todas as coisas, deste salvador, que em três passos atravessou as três regiões, afim de manter a existência dos seres diversos.
5 - O homem que glorifica Visnú percorre dois passos do itinerário do deus. Mas não pode ir até o terceiro. Até as aves de vôo rápido são incapazes de chegarem ao final do caminho de Visnú.
6 - Como roda imensa a mover-se em várias direções, ele traça trajetórias circulares em noventa e Quatro revoluções periódicas. Não sendo menino está sempre jovem e vem até nós quando o invocamos.

[(10) Visnú, divindade que integra a Trimurti, concepção da energia universal criadora sob três aspectos, é o deus criador do universo manifesto às criaturas terrestres. Traçou o itinerário do sol, marcando três estações para o nascimento, o zênite e o ocaso. Segundo à lenda, Visnú percorreu o espaço celeste disfarçado em anão].

(22, 3)
1 - Em ritos sagrados, glorifico o céu e a terra, poderosos sustentáculos do sacrifício. Nas santas cerimônias, devemos de contemplá-los, respeitosamente. Amando os seus adoradores como aos seus filhos, o céu e a terra são venerados pelos homens piedosos e, derramando seus favores
sobre nós, eles nos dão presentes desejáveis.
2 - Pelas minhas invocações, toma-se favorável o espírito do pai benevolente, alcanço a viva e espontânea afeição da mãe de todos os seres. Graças à sua proteção, os pais asseguram a imortalidade da sua descendência.
3 - Os vossos filhos, que praticam boas ações, vos reconhecem como seus progenitores. Têm experiência de vossas bondades para com eles. Sede, constantemente, perseverantes nos trabalhos da vossa gente. Seja ela capaz ou incapaz de mover-se, somente de vós dependem os seus meios de existência.
4 - Irmãs unidas e inteligentes, concebidas no mesmo regaço, sempre juntas, dentro da mesma casa, estão concordes sobre todas as coisas. Conhecedoras das suas funções, em seu vivo esplendor, elas se expandem em todas as direções, através do claro firmamento.
5 - Hoje, ao divino sol, pedimos a fartura, que todos Os homens desejam. Nós imploramos sua graça. Céu e Terra, benevolentes, concedei-nos a riqueza, casas e rebanhos.

(22, 11)
Composto pelo Richí Agastya.
1- Senhor dos cavalos, tu te entusiasmas, quando sobre ti, como em. vaso digno, se derrama o sagrado suco do soma. Para ti, que distribuis benefícios, foi preparada esta bebida, embriagadora e fortificante, que dá todos os prazeres, tão agradável quanto um alimento substancial e
que é fonte de delícias.
2 – Cheguem, onde estás, as nossas libações de soma, porque são embriagadoras, preciosas e do mais alto valor. Goza-as, Indra, tu que triunfas sobre teus inimigos.
3 - És herói e bem feitor. Acelera o movimento do carro que leva o homem ao céu. Poderoso Indra, destrói os ímpios Dasyus, assim como o fogo reduz a cinzas um vaso de madeira.
4 - Indra sapiente, com teu vigor arrancaste uma roda do carro do sol. Empunha o teu dardo para matares Sushna e aproxima-te de Kutsa com teus cavalos, velozes como o vento.
5 - Tua embriaguês é profunda. No entanto, são preciosos favores as tuas ações em nosso benefício. Generosamente distribuis cavalos, desejas que tua embriaguês e benevolência sejam os meios de destruir os teus inimigos e repartir riquezas.
6 - Aos que outrora te louvaram concedeste felicidade, Indra, foste para eles o que é a água para o homem sedento. Eu te louvo, constantemente, a fim de me concederes alimento, robustez e longa vida,

(22, 15)
(Composto pelo Richí Agastya)
1 - Lopamandra - Servi-te com zêlo, noite e dia, durante os muitos anos que me trouxeram a velhice. Agora, o tempo destruiu a beleza do meu corpo. Que devo de fazer? Aproximem-se os maridos de suas mulheres.
2 - Os sábios antigos, que proclamavam a verdade e conversavam com os deuses, geraram descendência numerosa e nem por isso violaram o seu voto de continência. Aproximem-se os maridos de suas mulheres.
3 - Agastya - A penitência não foi praticada em vão. Se os deuses nos protegem, podemos satisfazer todos os nossos desejos. Se usarmos de valorosos esforços, podemos neste mundo, triunfar em muitos combates.
4 - Enquanto eu me dedicava à prece e me empenhava em vencer as minhas paixões, apoderou-se de mim o desejo, suscitado por um ou outro motivo. Aproxima-te, Lopamandra, do teu marido. A mulher inconstante seduz o homem firme e resoluto.
5 - O discípulo - Rogo ao suco do soma, embebido em meu coração, que ele expie todo o nosso pecado. O homem se acha a mercê de muitos desejos.
6 - Agastya - Um sábio venerável, usando de todos os utensílios necessários, desejando posteridade e vigor, praticou as duas classes de deveres e foi agraciado pelos deuses com verdadeiras bênçãos.

(30, 7)
Composto pelo richí Gritsamada, dirigido aos Visvadevas.
1 - Aditias, protetores dos atos piedosos, vós merecedores do culto dos homens, afastai de mim o pecado. assim como a mulher afasta de si o filho que deu à luz às escondidas. Mitra, Varuna, eu sei qual o nosso bem, quando ouvis as nossas preces. Invoco a vossa proteção.
2 - Deuses, sois a inteligência, a força. Expulsai nossos insolentes inimigos. Destrui-os inteiramente. Concedei-nos a felicidade, agora e no futuro.
3 - Deuses, que podemos fazer por vós, agora e no futuro? Ó Vasús, que podemos fazer com nossos constantes atos piedosos? Mitra, Varuna, Aditi, Indra, Maruts, conservai nosso bem estar.
4 - Deuses, sois nossos verdadeiros pais. Concedei-me a felicidade. Não demore o vosso carro em trazer-vos até aqui. Nós não nos aborrecemos jamais com progenitores como vós.
5 - Eu sozinho cometi muitos erros. Corrigi-os, como o pai corrige o filho mimado. Deuses, afastai de mim o pecado e as dificuldades. Não prendei vosso filho como o caçador agarra um pássaro.
6 - Deidades adoráveis, vinde hoje aqui, a fim de que eu tenha a certeza do vosso apoio cordial. Protegei-nos contra a rapacidade do lobo. Defendei-nos do homem que pretende fazer-nos infelizes.
7 - Varuna, que eu não tenha de falar da miséria de um parente estimado, e que tenha sido opulento e generoso. Ó divino Varuna, não me faltem tesouros. Estejamos rodeados de descendentes perfeitos, para seres glorificado por todos, louvado neste sacrifício.

(30, 10)
Composto pelo richí Gritsamada e dirigido a um pássaro ou a Indra, sob a forma de um pássaro.
1 - O Capinjala (11) solta repetidos pios e prediz o que vai acontecer. Dirige o seu canto com o cuidado do piloto na direção do navio. Ó pássaro, seja o teu canto um presságio de felicidade e que nenhum mal te atinja.
2 - Nenhum gavião, nenhuma águia te mate. Nenhum arqueiro te alcance com sua flecha. Na região dos Pitris, sejam os teus pios um indício de felicidade. Diz-nos agora que estás prenunciando a felicidade.
3 - Tu que anuncias a ventura, vem cantar do lado sul das nossas moradias. Nenhum ladrão, nenhum malfeitor nos assalte. Rodeados dos nossos descendentes, possamos louvar-te neste sacrifício.

[(11) o Capinjala é um pássaro que os hindus supõem alimentar-se da água das nuvens, que ele chama com seus pios. É assim um anunciador de chuva e, portanto, de felicidade para um povo que, sendo agricultor e criador de gado, necessita de água. Associam-no ao deus Indra, que vive no ar e que anuncia a chuva com os trovões e os relâmpagos].