Radhakrishna

Nascido em 1888, Sir Sarvapalli Radhakrishnan, hoje Vice-
Presidente da República Indiana, é o mais destacado dos filóso-
fos e pensadores religiosos da Índia moderna. Tentou estabelecer
a seu modo uma ligação entre o pensamento indiano (baseado
no Vedanta e no budismo) e o pensamento ocidental, sem sa-
crificar, entretanto, qualquer coisa das principais teorias hindus.

Salvação

O objetivo da religião é o de nos erguer de nosso provincianismo
momentâneo e despido de significado, levando-nos à importância e po-
sição do eterno, transformar o caos e a confusão da vida naquela es-
sência pura e mortal que é sua possibilidade ideal. Se a mente hu-
mana se modifica de modo a estar perpetuamente na glória da luz di-
vina, se as emoções humanas se transformam nas medidas e movimento
da ventura divina, se a ação humana partilha da capacidade criadora da
vida divina, se a vida humana partilha da pureza da essência divina,
se pudermos sustentar essa vida mais elevada, o longo trabalho do pro-
cesso cósmico receberá sua justificação final e a evolução dos séculos
desdobrará seu significado profundo. A divinização da vida do ho-
mem no indivíduo é o sonho das grandes religiões. É o moksha (a) dos
hindus, o nirvana dos budistas, o reino do céu dos cristãos. Para Pla-
tão, é a vida da percepção desimpedida da idéia pura. É a compre-
ensão da forma nativa do homem, a restauração da sua integridade de
ser. O céu não é o lugar onde Deus vive, mas uma ordem de ser, um
mundo de espírito onde as idéias de sabedoria, amor e beleza existem
eternamente, um reinado no qual podemos ingressar imediatamente em
espírito, que podemos compreender inteiramente em nós mesmos e na
sociedade apenas através e esforço longo e paciente. A expectati-
va do segundo advento é a expressão da convicção da alma quanto à
realidade do espiritual. O processo do mundo atinge sua consumação
quando todos os homens sabem que são o espírito imortal, o filho de
Deus, e o são. Até se chegar a essa meta, cada individuo salvo é o
centro da consciência universal. Ele continua a agir sem o sentido,do
ego. Ser salvo não é ser retirado do mundo. A salvação não é fuga à
vida. O individuo não opera mais no processo cósmico como um ego
obscuro e limitado, mas como um centro da consciência divina ou uni-
versal que abarca e transforma em harmonia todas as manifestações
individuais. É viver no mundo com o interior profundamente modifi-
cado. A alma toma posse de si própria e não pode ser abalada de sua
tranqüilidade pelas atrações e ataques do mundo. Se o individuo salvo
foge literalmente do processo cósmico, o mundo ficaria para sempre
irremisso, ficaria condenado a continuar sendo por todo o tempo o pal-
co de luta e treva intermináveis. Os hindus afirmam graus diferentes
de libertação, mas a completa e final é a ultima. O Bhagavata Purana (b)
registra a oração seguinte: "Não desejo o estado supremo com tôdas
as suas oito perfeições, nem tampouco a libertação quanto ao renasci-
mento; seja-me permitido tomar a tristeza de todas as criaturas que so-
frem e entrar nelas, de modo que possam libertar-se da aflição. A
auto-realização a que aspiram é incoerente com o deixar de conseguir
resultados semelhantes nos outros. Este respeito pelo individuo como
individuo não é a descoberta da democracia moderna, no que diz res-
peito à esfera religiosa. Quando o processo cósmico resultar na revela-
ção de todos os filhos de Deus, quando todo o povo do Senhor se tomar
profeta, quando esta encarnação universal tiver lugar, o grande renas-
cimento cósmico de que a Natureza luta por se libertar estará consumado.

a) Libertação ou Isenção quanto à necessidade de nascer
novamente.
b) Um celebrado livro religioso da Índia medieval.