Ramaprasad Sen

Este poeta bengali (1718-1775) compôs odes delicadas
à Deusa que dão testemunho de profundo sentimento místico.

I. Morte à Porta

Pensa nisso, minha Alma, que tu não tens qualquer pessoa a quem
possas chamar tua. Vãs são tuas peregrinações sobre a terra. Dois ou
três dias, e termina tua vida terrena, mas os homens se arrogam mes-
tres e senhores daqui. O mestre do tempo, a Morte, virá derrubará
tais domínios. Aquela a quem mais amas, por quem mais te preocupas,
te deixará? Não, ao invés disso, a menos que algum mal caia na casa,
ela aspergirá com estrume de vaca (a) a casa onde tu morreste.

a) Estrume de vaca é usado nos casos hindu para
purificação.

2. Preparação Para a Morte

Alma, por que te tornaste um mendigo? Três vezes desgraçada,
nada sabendo?
Em busca da riqueza que passa, tu peregrinas de uma terra a ou-
tra. Aquilo que desejas, que amas, não vês dentro de tua casa?
Alma, se te deixares de lado como mente, entrarás em união. Quan-
do a adoração é fácil e natural como tua respiração, então o veneno
da morte não terá poder sobre ti.
As jóias e riquezas que te deram os mestres, prende-os segura-
mente a ti.
Eis o pedido do pobre Ramaprasad, que espera tocar os Pés que
eliminam o medo.

3. Todo Erro Terminou

Não mais peregrinarei ou viverei em meio ao erro. Descansei so-
bre os Pés que eliminam o medo, e com medo não tremerei de novo.
Não mais sobrecarregado pelas paixões mundanas que me atrapalham,
não afundarei no poço de veneno. Encarando do mesmo modo a ale-
gria e tristeza, não mais levarei o fogo em minha mente. Bêbado de
desejo de riqueza mundana não estou mais, pelo que não andarei de
porta em porta. Não me agarrarei ao vento da esperança ou expo-
rei minha mente aos outros. Não sendo mais prisioneiro dos engodos
dos sentidos, não me agitarei mais em baixo da árvore do amor.

4 . O Fim

Tara, (a) lembras-te de algo mais?
Mãe, como eu vivi feliz, existe felicidade depois? Se as palavras
de Xiva tivessem sido verdadeiras, eu não te estaria suplicando. De-
pcis de passar de uma ilusão para outra ilusão, sinto minha pálpebra di-
reita latejar.
Houvesse algum outro lugar, eu não te teria procurado. Mas ago-
ra, Mãe, tendo-me dado esperança, tu cortaste meus grilhões, tu me
elevaste ao alto da árvore.
Diz Ramaprasad: Minha mente é firme e meu presente ao sacer-
Dote (b) foi bem feito. Mãe, minha Mãe, tudo em mim terminou. Eu
ofereci meu presente.(c)
(Números 51, 54, 63, 65)

a) A deusa.
b) O presente (neste caso, o presente de devoção feito por
Ramaprasad) quando termina a adoração.
c) "Devo um galo a Esculápio" - Sócrates.