Tulsidas

O nome de Tulsidas (morto em 1623) domina a poesia
religiosa da Índia moderna. Sua obra principal (em hindi) é
o Ramacaritmanas ("Lago Sagrado dos Atos de Rama"), um
tipo de épico lírico liberalmente inspirado pelo Ramayana e
mais ainda pelo Adhyatma-Ramayana. Nessa obra, Rama é o
deus supremo que pelo amor aos seres humanos se encarnou como
herói fabuloso. Este poema serve como Bíblia, ao que se dis-
se, para cem milhões de pessoas e sua popularidade se espalhou
além das fronteiras da língua hindi.

1. O Sermão do Deus Xiva

ouve-me, ó Parvati,a e minha fala dissipará o erro como o sol dis-
sipa as trevas.
Não há diferença entre o Pessoal e o Impessoal, dizem os sábios,
os ascetas, os Vedas e os Puranas,(b) Aquele que é Impessoal, sem for-
ma e não-nascido, toma-se Pessoal por amor de seus devotos. Mas como
o Impessoal pode tomar-se Pessoal? Assim como a água se transforma
em gelo.
Rama é o sol, o ser verdadeiro, consciência, Ventura e a Ele a
noite da ilusão não atinge. Ele é a luz fundamental, o Adorável -
como pode haver uma aurora da sabedoria para Ele? A Felicidade e
Miséria, conhecimento e Ignorância, soberba e orgulho, são o fado
dos homens mortais, mas Rama, como todos sabem, é o Absoluto Onipre-
sente, Ventura suprema, senhor de tudo e eterno.
Ele é o Espírito renomado, o Tesouro de Luz, uma manifestação
do senhor do Universa, Jóia de raça solar e meu Mestre. Dizendo
isso Xiva inclinou a cabeça.
O ignorante não compreende seu próprio erro e, sua estupidez,
atribui sua ilusão ao senhor - como um tolo, ao olhar o céu encober-
to de nuvens, diz que o sol está coberto, ou olhando a lua através de
seus dedos apertados sobre os olhos, imagina que existam duas luas.
O Uma(c), tal ilusão não afeta Rama, como a obscuridade, fumaça e
poeira não afetam o céu.
Os objetos dos sentidos, os sentidos, as deidades dos sentidos e
as almas individuais dependem cada qual do seguinte, para sua exis-
tência consciente, mas aquele que ilumina todos, aquele é o Rama eter-
no, príncipe de Ayodhya. Tudo quanto é iluminável se ilumina com
Rama. Ele é senhor de Maya,(d) e possui toda a sabedoria e virtude e
por sua realidade o Maya inativo toma um ar de Realidade com aju-
da da ilusão. Por ser parecido ao brilho de uma concha de ostra, como
uma miragem nos raios do sol, o erro é irreaL e ainda assim ninguém
pode escapar-lhe.
Assim, o mundo depende de Hari(e) e embora irreal, pode causar
sofrimento - como um homem que sonha terem cortado sua cabeça
sofre, até despertar.
Aquele por favor de quem tal erro é corrigido, ó Parvati, é o in-
dulgente Rama. N'Ele não há inicio, nem fim, e os Vedas tentaram
o melhor que puderam descrevê-lo assim: "sem pés Ele anda, sem
ouvidos ouve, sem mãos executa seus diversos feitos, sem palato per-
cebe todos os gostos, sem fala é o mais eloqüente, sem corpo Ele toca,
sem olhos vê, sem nariz cheira todos os odores - assim, sua atividade
é sobrenatural de todos os modos e ninguém pode descrever sua gran-
deza". (51)
(Ramacaritmanas, 1,115 ss.)

a) Consorte de Xiva.
b) Livros sagrados dos hindus.
e) Parvati.
d) Ilusão cósmica.
e) Vixnu.

2. Louvor de Rama Como Ser Supremo

Tu és o guardião dos limites da revelação, ó Rama, tu és o se-
nhor do Universo e Janaki (a) é Maya (b) que cria, conserva e destrói o
mundo a teu comando, ó Indulgentíssimo. E Lakshmma (c) é a serpen-
te com mil capuzes que sustenta a terra, soberano de todas as coisas
amimadas e inanimadas. Tu adquiriste um corpo humano pelo bem dos
Deuses e tu vieste destruir o exército de demônios.
Tua forma real transcende a fala e a inteligência. Tu és inefá-
vel e infinito, sempre concitado pelos Vedas: "Isto não! Isto não!"
O mundo é apenas um drama e tu o observas como espectador, e Bra-
ma, Vixnu e Xiva tu fazes dançar como fantoches. Eles mesmos não
conhecem o mistério de teu caráter - quem mais pode compreender-te
como és? Só sabe aquEle a quem deste o poder de te conhecer, e co-
nhecendo-te, Ele se une a ti.
É por tua indulgência, o Raghunandan, que teus devotos te com-
preendem e tocas o coração dos fiéis como reconfortante pasta de sán-
dalo. Tua verdadeira forma é o pensamento puro e ventura, livre de
transformação. Quem foi privilegiado assim sabe disso. Mas pelo bem
dos deuses e justos, tornaste a forma de ilusão e falas e ages como um
príncipe desta terra.
O Rama, quando vêem teus atos e ouvem falar dos mesmos, os
tolos ficam perplexos, mas os santos rejubilam; tudo quanto dizes ou
fazes está certo - como o costume, como a mímica? (52)

a) Esposa de Rama
b) Ilusão cósmica.
c) Irmão de Rama.