Devemos a esse autor, do século VIII, três dramas famo-
sos, dos quais os dois mais conhecidos são uma narrativa dra-
matizada dos últimos dias do herói Rama (o Uttararamacarita)
e uma história de amor entremeada de cenas trágicas (o Malati-
madhava). A passagem abaixo é uma cena dessa última obra,
onde se demonstra a preparação para um sacrifício humano em
homenagem a Camunda, uma das designações sem conta da gran-
de Deusa.
Um Sacrifício Humano a Camunda,
Consorte do Deus Xiva
Desperta agora os terrores do lutar, acossa
Com inimigos malignos em grande número; as chamas
Das piras funerais mal emprestam sua luz triste,
Tomadas em sua presa de carne para dissipar
A tristeza temível que as circunda. Fantasmas pálidos
Fraternizam com duendes imundos e sua alegria dissonante
Ecoa em volta em gritos agudos que respondem.
Entrada da sacerdotisa
Glória a Shaktinath (a), cujos passos
As deusas poderosas acompanham, buscando
Vitoriosamente sós os firmes em pensamento.
Ele coroa os altos objetivos dos que sabem
E mantêm sua forma, como o espírito onipresente,
Que, unido à sua própria essência, faz seu assento
No coração, o centro-lótus da esfera
Sêxtupla, circundada por dez nervos. Assim sou eu.
Liberto de todos os laços perecíveis, vejo
A alma eterna incorporada como o Deus,
Forçada por meus sortilégios a trilhar o labirinto místico
E surgir em esplendor, entronizada em meu coração.
Assim pelas veias de muitos canais eu extraio
Os elementos mais brutos deste corpo mortal,
E saio lépido pelo ar, dividindo
As nuvens que guardam água. Por meu vôo.
Esperam honras terríveis; - os crânios ocos
Pendurados em meu pescoço, lá em baixo
Emitem música feroz, quando se chocam,
Ou batem nas placas em volta aos meus rins!
[Madhava, tentando salvar sua amada Malati, prometida
como vitima, espanta as hostes de demônios]
Raça pérfida e repelente. Tudo está imerso
Em tristeza completa. O rio corre diante de mim,
O limite do terreno funeral que coleia,
Em meio aos ossos, seu caminho interrompido.
Ruge selvagem a corrente enquanto passa
E alui suas margens que desmoronam, a coruja
Pia em meio a seus bosques e aos sons
O chacal grita em resposta alta, longa e chorosa.
[Dentro do templo, o sacerdote do sacrifício humano dança
conforme a coreografia tântrica]
Viva, viva! Camunda, poderosa deusa, viva!
Glorifico tua diversão, quando na dança
Que enche a côrte de Xiva de prazer,
Teu pé descendo atinge o globo terrestre.
A pele de elefante que te cobre, a teus passos
Balança, para lá e cá as garras girantes rasgam
O crescente em tua sobrancelha; do orbe rasgado
Cai o néctar em gotas, e todos os crânios
Que ornamentam teu colar gargalham com vigor horrível. (35)
a) Xiva.