Gita Govinda

A Canção de Govinda (Krishna como deus das vacas) é
obra de Jayadeva (Bengala, final do século XII). Descreve o
amor de Krishna e Radha, a nostalgia do deus de quem Radha
é afastada pelo rancor, o seu sofrimento e sua reconciliação.
Essa écloga, onde um tom místico se mistura ao do amor lírico,
aparece como uma espécie de folheto consistindo numa seqüên-
cia de cantilenas terminadas em refrões.

1. A Saudade de Krishna Quando Separado de Radha

Aqui resido agora. Vai ter com Radha
consola-a com minha mensagem e traze-a para mim.
Assim o inimigo de Madhu (a) instruiu seu amigo,
que foi em pessoa, e dirigiu-se a assim a Radha:

Quando sopra a brisa das Montanhas do Sul,
e traz consigo o deus do Amor,
quando massas de flores se apresentam
para ferir os corações de amantes separados,
ele lamenta a separação de ti, vestido com sua grinalda de floresta.

Até a lua de raios frios o inflama,
e ele está como que morto.
Atingido pelas setas do amor
ele se queixa lamentosamente.
Ele está magoado...

Quando as abelhas em enxame estão zumbindo,
ele tampa os ouvidos.
Seu coração está fechado pela separação,
e suas noites passam em febre.
Ele está magoado...

Ele mora nas profundezas da floresta,
abandonou seu lar encantador.
No sono, rola sobre a terra
e murmura muito o teu nome.
Ele está magoado...

Quando o poeta Jayadeva canta
por esta descrição piedosa
dos feitos do amante que partiu,
possa Hari surgir nos corações zelosos.
Ele está magoado... (37)

a) O próprio Krishna.

2. A Dor de Radha Pela Separação, Descrita a Krishna

Ela secretamente te vê em toda parte, bebendo o mel doce de
seus lábios. Senhor Hari (a), Radha lamenta no caramanchão dos amantes.
Quando se apressa em sua ânsia de vir encontrar-te, ela dá al-
guns passos, e cai em desmaio. Senhor Hari, Radha lamenta no ca-
ramanchão dos amantes.
Usando um bracelete feito de caules de lótus brancos e puros e
brotos tenros, ela só continua vivendo aqui devido à tua capacidade
no amor. Senhor Hari, Radha lamenta no caramanchão dos amantes.
Observando repetidamente a beleza alegre de seus ornamentos,
ela faz de conta que ela própria é o Inimigo de Madhu.(b) Senhor Hari,
Radha lamenta o caramanchão dos amantes.
"Por que Hari não vem logo ao lugar de nosso encontro?”, pergun-
ta a sua companheira a todo instante. Senhor Hari, Radha lamenta
no caramanchão dos amantes.
Ela abraça e beija a grande treva, como uma nuvem de chuva,
pensando: "Hari veio". Senhor Hari, Radha lamenta no caramanchão
dos amantes.
Enquanto tu demoras, a modéstia foge dela e ela lastima e chora,
vestida para seu amor. Senhor Hari, Radha lamenta no caramanchão
dos amantes.
Possa esta manifestação do poeta Jayadeva conferir grande felici-
dade aos que apreciam a poesia. Senhor Hari, Radha lamenta no ca-
ramanchão dos amantes.
(Canção 12)
a) Vixnu.
b) O próprio Krishna.