Lalla

Lalla, a profetisa de Caxemira, onde viveu no século XIV,
ensinou um método de Ioga ligado ao shaivismo caxemiriano e
tendo o Vedanta "advaita" por base. Sua contribuição à tona-
Iidade religiosa da Índia não está tanto em ter conhecido e as-
simiIado as doutrinas sufi quanto em ter conservado ou desco-
berto um sentimento místico puríssimo e profundo com os sim-
boIos complexos e muitas vezes esotéricos por ela adotados.

Uma Experiência Espiritual

[Lalla começa relatando sua própria experiência espiritual.
Peregrinara bastante em busca da verdade, mas em vão. De re-
pente, descobriu-a em sua alma, onde encontrou o seu próprio
eu, que se tornou para ela o equivalente a um preceptor espi-
ritual, aprendendo então que o mesmo e o Eu Supremo (Xiva)
eram um só]

Apaixonada, com ânsia em meus olhos,
Buscando par toda parte e varando dias e noites,
Eis que contemplo o Verdadeiro, o sábio,
Aqui em minha própria casa para encher meus olhos.

Foi esse um dia de minha estrela boa.
Ofegante, tomei-o para meu Guia.
Assim minha Luz do conhecimento brilhou bastante,
Impelida pela respiração lenta de minha garganta.

E então, minh'alma brilhante a meu Eu revelada,
Espalhei em redor minha Luz interna;
E com a treva à minha volta desfeita,
Guardei a Verdade e o prendi bem a mim.

[Sendo uma iogue professa, seu misticismo e transcenden-
taIismo se encontram cheios de termos do sistema Ioga e refe-
rências ao mesmo]

Quando o Exercício do corpo é feito
E usado o último esforço do Pensamento,
Então nem o Fim, nem o Alvo, são atingidos.
Brahman, isso é Doutrina sem mistura.

Quando pela Disciplina repetida com freqüência
Toda a Amplidão é erguida ao Vazio,
O Universo e o Éter fundem-se no ar.
Brahman, isso é Doutrina sem mistura.

Quando o Vazio dentro de si próprio é dissolvido
E a Eterealidade destruída,
Só o Bem-estar fica indeciso.
Brahman, isso é Doutrina sem mistura.

Onde está o Bem-estar, pensamento algum da mente,
Ação ou inação pode chegar;
Votos de silêncio não conseguem achar entrada,
Nem vale a atitude mística.

Lá, nem mesmo Xiva reina supremo,
Nem sua Energia unida tem o domínio.
Só o Algo, como um sonho,
Segue ali um caminho esquivo.

[LaIIa devota-se apaixonadamente à doutrina da unidade
do eu individual com o Eu Supremo]

Senhor, a mim mesma nem sempre conheci;
Nem quaLquer outro eu, além do meu.
Cuidado por este corpo vil eu demonstrei,
Mortificado por mim para tornar-me Tua.

Senhor, que eu sou Tu, não sabia.
Nem que és eu, que Um é dois.
"Quem sou eu?" É a Dúvida das dúvidas, e assim
"Quem és Tu?" Levará ao nascimento outra vez.

Xiva ou Keshava,(a) senhor-Lótus, (b) ou Jin (c):
sejam nomes. No entanto, tiras de mim
Todo o maL que é meu mundo por dentro;
seja Ele Tu, ou Ele, ou Ele, ou Ele.

[Não são as obras, mas o conhecimento esotérico, o que
trará a Libertação ou Salvação à alma]

Senhora (d), levanta e oferece ao Nome,
Trazendo em tua mão a carne e vinho.
Isso jamais te trará prejuízo e vergonha,
Não sendo costume teu.

Isso Eles tem por conhecimento por encontrarem -
Seja o Grito alto de seu Lugar apenas ouvido -
Unidade entre o senhor e o som,
Como o som tem unidade com a Palavra.

Dá de comer a teus carneiros gordos, o mundano,
Leva-lhes grãos e aperitivos, e depois abate-os.
Dá a teus pensamentos que tresandam com "dito e feito",
Últimos frutos do conhecimento e desperdiçados.

Então verás com olhos do Espírito o Lugar
onde a morada do senhor será;
Então passarão teus pavores de desgraça;
Então o costume perderá sua força em ti.

"Não penses nas coisas que existem por fora;
Fixa em teu Eu interno teu Pensamento;
Assim estarás livre de obstáculo ou dúvida" -
Preceitos estes que meu Preceptor ensinou.

Dança então, Lalla, vestida apenas de ar;
Canta então, Lalla, vestida apenas de céu.
Ar e céu - que roupa é mais bela?
"Pano" - disse o costume - Acaso isso santifica? (45)

a) Vixnu.
b) Deus Brama.
c) O salvador dos Jainas ou dos Budistas.
d) Kundalini, o Poder do Espírito, a força criadora do universo
fenômeno), residente no corpo de todos os seres humanos.