Namdev e Tukaram

Namdev, poeta maharashtriano que a tradição situa entre
os séculos XIII e XIV, foi herdeiro da poesia religiosa perten-
cente a Jñaneshvarai, representante do bhakti, e seguidor fer-
voroso de Vixnu.
Tukaram (1607-1649) foi o maior dos poetas maharash-
trianos, sendo autor de cerca de mil hinos chamados os abhangs.
Tais hinos marcam o ponto culminante do bhakti, um tipo de
adoração livre de qualquer filiação sectária ou influências ri-
tuais ou eruditas. Os abhangs são cantados ainda hoje nos do-
micíIios mais humildes da região maharashtriana da Índia.
A primeira seleção abaixo é de Namdev, as demais de Tu-
karam.

1. O Reino da Paz

Agora, todos os meus dias com alegria encherei
Até a beira,
com todo meu coração a Vitthal (a) me prenderei
E só a ele.

Ele arredará por completo
Toda aflição e cuidado;
E tudo aos pedaços, romperei
As malhas da ilusão.
Ó, de todo querido é Ele,
E apenas Ele,
Pois toda a minha carga tomará
Para ser sua.

Ah, toda a tristeza do mundo
cessará Logo,
E tudo que não acaba será agora
o reino da paz.

Pois toda a servidão Ele romperá
Do cuidado mundano,
E aos pedaços desfará
As malhas da ilusão.

De todas as minhas todas fantasias
Que eu me liberte,
Em Vitthal, Vitthal apenas está
A tranqüilidade. (46)

a) Vixnu.

2 . A Espera

A cabeça nas mãos diante de minha porta,
sento-me e espero em vão.
olhando a estrada para Pandhari (a)
Meu coração e olhos eu forço.

Quando verei o meu senhor?
Quando o verei vindo a mim?
De todos os dias e horas que passam
Eu conto a série longa.

Pela vigilância minhas pálpebras ardem,
Meus membros lá estão cansados,
Mas meu coração impaciente esquece
O cansaço do corpo.

O sono não é mais doce para mim;
Não me importo pelo meu leito;
Esquecidos minha casa e meu lar,
Toda sede e fome se afastaram.
Diz Tuka,(b) Abençoado será o dia -
Ah! Que bem próximo esteja!
Quando se voltará e Pandhari
Para chamar de volta a noiva. (46)

a) Ou Pandharpur, sede de um famoso templo a Vixnu.
b) O próprio Tukaram.

3. Afasta-me da Vaidade

Afasta-me da vaidade
Afasta-me do orgulho,
Pois certamente pereço
se me afasto de ti.

Deste mundo enganador,
Que difícil é fugir!
Ah, tu, senhor de Vaikuntha, (a)
Liberta-me!

Se uma vez tua face graciosa
Eu olhei,
A sedução do mundo então
se acabou. (46)

a) O Paraíso de Vixnu.

4. O único Refúgio

Sou um monte de pecado;
Tu és todo pureza;
Mas deves tomar-me como sou
E levar meu fardo por mim.

A mim, a Morte consumiu todo;
Em ti, mora todo o poder.
Tudo o mais abandonando, a teus pés
Teu servidor Tuka se esconde. (46)

5. Não Posso Compreender - Eu Amo

Tua grandeza ninguém pode entender;
Todos mundos são os Vedas.
Extenuados, os poderes da mente mortal
Não podem alçar-se a tanto.
Como posso medir aquele cuja luz
Ilumina tanto o sol quanto a estrela?

A serpente de mil línguas (a)
Não pode pronunciar todo o teu louvor;
como, então, posso eu? Teus filhos, nós,
Mãe dos modos amorosos!
Dentro da sombra de tua misericórdia,
Ah, esconde-me, diz Tuka.

a) Shesha, a serpente que sustenta o mundo.

6. Sou Pobre e Necessitado

Não há feitos que eu tenha executado, nem pensamentos
Por mim pensados;
A não ser como teu servidor, nada sou.

Guarda-me, Ó Deus, e Ó, controla
o tumulto de minha alma inquieta.

Ah, por favor, não lances sobre mim
A culpa de minha iniqüidade.

Meus pecados sem conta, eu, Tuka, digo
sobre teu coração amoroso eu deixo. (46)