O Shivañanabôdham

Este tratado didático é atribuído a Meykandadevar e se
acha composto em tâmil, sendo um comentário sobre doze su-
tras sânscritos chamados o Shaivasiddhanta e que servem como
texto básico da escola shaivita da Índia meridional. A obra data
do século XIII e abaixo reproduzimos a tradução desses sutras.

A Verdadeira Doutrina Shivaíta

Devido a existir em formas masculina, feminina e neutra, o mun-
do é visto como um efeito; deve, portanto, existir um agente. De-
pois de te-lo dissolvido, ele o cria; portanto, Hara (a) é o senhor.
Embora o Agente seja outro que não as almas, Ele não é outro
por motivo de penetração. Através do Poder que está inseparavelmen-
te ligado a si, Ele causa a transmigração para os seres humanos em con-
formidade com seus atos.
Existe uma essência sutil no corpo, pois há algo que "não é isto
nem aquilo"; por causa do excesso de propriedade egoísta; por causa
do despertar e da cessação do olho;(b) por causa da ausência de des-
frute dos sentidos no sono; porque existe um agente de percepção na
percepção.
Embora a alma seja diferente do órgão interno, acha-se ligado a
ele como um rei a seus conselheiros e deve existir nos cinco estados,
com a função de sua própria visão obstruída pela impureza.
Os olhos percebem os objetos do sentido humano, não de si pro-
prios, mas da alma. A alma conhece graças à ajuda de shambhu (a) se
alguém disser então que Xiva está sujeito à transformação, a respos-
ta é negativa: Ele o atrai como um imã atrai o ferro.
Se Ele fosse o imperceptível, Ele seria não-existente. Se fosse per-
ceptível, Ele seria a matéria insensível. Por isso, os sábios compreendem
que a forma de shambhu é conhecível porque é diferente disso.
Na presença do consciente, não há Não-consciente. No entanto
são gêmeos, mas não se conhecem um ao outro. Quem conhece o mun-
do e Xiva é o conhecedor da alma, que é diferente de ambos.
Quando a alma abençoada, depois de morar com os caçadores, os
sentidos, é instruída por um guru,(c) "Tu não te conheceis”, depois
então de ter desistido desses sentidos, não sendo outro senão Xiva,
ela alcança seus pés.
Tendo pela visão espiritual visto o senhor (a) na alma, e tendo aban-
donado a miragem da atividade sensorial e apreendido a sombra dos
pés de Xiva, o sábio deveria meditar sobre as cinco Letras.
Assim, o aperfeiçoado que conseguiu união com Xiva, depen-
dente d'Ele, tem sua atividade; e não sendo tocado pela Impureza e
por Maya (c) e coisas semelhantes, tem sua experiência.
A alma faz os olhos ver; e Xiva é quem faz o ver da alma. Por
isso se deve grande devoção Àquele que ajuda a alma.
Em favor da libertação, tendo-se aproximado dos corretos, deve-
se oferecer devoção a seu hábito e à morada de Xiva; e compreen-
der assim a doutrina estabelecida do shaivismo no shivañanabôdham. (44)

a) Xiva.
b) Usado para todos os sentidos.
c) Ilusão cósmica ou insciência.