Manu Smriti

O Manava-dharma-shastra, ou Leis de Manu, constitui um
clássico da teoria jurídica indiana. Esta obra, que talvez pos-
sa ser datada de um ou dois séculos antes da era cristã, con-
densa em forma de máximas diversificadas todo o teor do
dharma, seja as regras especificamente religiosas ou institui-
ções, costumes e preceitos éticos que dominam a existência do
indivíduo, seja o individuo estabelecido no mundo (e, por con-
seqüência, sujeito as direções das castas sociais e dos ashramas)
ou o indivíduo isolado do mundo (asceta). Tais regras se apre-
sentam dentro do arcabouço de um grande afresco cosmogônico,
grande parte do qual é citada abaixo (número 7) - Manu é
aqui o homem primordial que recebe a revelação dos desígnios
supremos de Brahman e ao mesmo tempo é o promulgador de
Smriti ou "tradição guardada na memória" (emitida secundaria-
mente dos Shruti, ou "Revelação Direta").
Os números 8 e 9 foram tirados de textos posteriores de
Smriti (igualmente de data indefinida), o Vishnu Smriti e o
Narada Smriti.

l. Sobre a Transmigração

A ação, que advém da mente, da fala e do corpo, produz resul-
tados bons ou maus; pela ação são causadas as diversas condições huma-
nas, as mais elevadas, as médias e as mais baixas.
A mente é o instigador aqui em baixo, mesmo aquela ação ligada
ao corpo, e que é de três tipos, tem três localizações e se classifica
sob dez títulos.
Cobiçar a propriedade alheia, pensar no coração sobre o que é
indesejável e aderir a doutrinas falsas são os três tipos de ação men-
tal pecaminosa.
Injuriar o próximo, dizer mentira, detrair dos méritos de todos os
homens e falar frivolamente serão os quatro tipos de ação verbal má.
Tomar o que não foi dado, ferir as criaturas sem a sanção da lei
e manter relações criminosas com a mulher do próximo são declara-
dos como os três tipos de ação corporal ruim.
Um homem consegue o resultado de ato mental bom ou mau
em sua mente, o de um ato verbal em sua fala e o de um ato cor-
poral em seu corpo.
Em conseqüência de muitos atos pecaminosos cometidos com seu
corpo, no nascimento seguinte um homem se toma algo inanimado;
em conseqüência de pecados cometidos pela fala, uma ave ou um ani-
mal, e em conseqüência de pecados mentais ele nasce novamente em
uma casta inferior. (8)
(12.3-9, 11)

2. Regras Para um Chefe de Família

Tendo morado com um mestre durante a quarta parte da vida
de um homem, um brâmane deve viver a segunda parte de sua exis-
tência em sua casa, depois de ter-se esposado.
Um brâmane deve buscar um meio de subsistência que não cause
dor aos outros, ou a menor possível, e viver disso, a não ser em
tempos difíceis.
Para o fito de ganhar sua subsistência, seja-lhe permitido acumu-
lar propriedade seguindo essas ocupações irrepreensíveis prescritas para
sua casta, sem fatigar demais seu corpo.
Que nunca siga os caminhos do mundo, para subsistir; que viva
a vida pura, correta e honesta de um brâmane.
Quem desejar a felicidade deverá esforçar-se por ter uma dispo-
siçao perfeitamente satisfeita e controlar-se, pois a felicidade tem o
contentamento por raiz, sendo a indisposição a raiz da infelicidade.
Seja ele rico ou mesmo na dificuldade, que não procure a riqueza
em atividades pelas quais os homens se dividem, nem por ocupações
proibidas, nem tampouco aceite presentes de qualquer pessoa, seja lá
quem for.
Que nunca se prenda, por desejo de desfrute, a qualquer prazer
sensual, e que elimine cuidadosamente uma ligação excessiva ao mes-
mo, refletindo em seu coração sobre sua falta de valor.
Que evite todos os meios de adquirir riqueza que impeçam o es-
tudo dos Vedas; que se mantenha de qualquer maneira, mas estude,
porque essa devoção ao estudo dos Vedas garante a realização de seus
objetivos.
Que ande aqui na terra, trazendo suas roupas, fala e pensamentos
em conformidade com sua idade, ocupação, riqueza, sabedoria sagrada
e sua raça. (8)
(4.1-3, 11-12, 15-18).

3. Regras Para o Asceta

Tendo passado a terceira parte do têrmo natural de vida de um
homem na floresta, ele poderá viver como asceta durante a quarta
parte de sua existência, depois de abandonar todas as ligações com os
objetos mundanos.
Aquele que depois de passar de uma ordem a outra, depois de
oferecer sacrifícios e controlar os sentidos, se cansa de dar esmolas e
fazer oferendas de alimento, se toma um asceta e ganha ventura depois
da morte. .

Quando tiver pago as três dívidas, que aplique sua mente a tare-
fa de atingir a libertação final; aquele que a busca sem ter pago
suas dívidas afunda para baixo.
Tendo estudado os Vedas de acordo com a regra, tendo procriado
filhos de acordo com a lei sagrada e tendo oferecido sacrifícios de acor-
do com sua capacidade, poderá dirigir sua mente a tarefa de atingir
a libertação final.
Partindo de sua casa plenamente provido dos meios de purificação,
que peregrine em silêncio absoluto e não dê atenção aos desfrutes que
lhe possam ser oferecidos.
Ele não possuirá um fogo ou uma moradia; poderá ir a aldeia
para conseguir alimento; e será indiferente a tudo, firme em propó-
sito, meditando e concentrando sua mente sobre o brahman.
Que não deseje morrer, que não deseje viver; que espere sua
hora, como um trabalhador espera o pagamento de seu ordenado.
Que ponha no chão seu pé purificado por sua vista, que beba
água purificada pela filtragem de um pano, que diga palavras purifi-
cadas pela verdade, que mantenha puro seu coração.
Deliciando-se no que diz respeito à Alma, sentado nas posições
prescritas pela Ioga, independente de auxílio externo, abstendo-se in-
teiramente de desfrutes sensuais, tendo apenas a si próprio por com-
panheiro, ele viverá neste mundo, desejando a ventura da libertação
final.
Que reflita sobre a transmigração dos homens, causada por seus
atos pecaminosos, sobre sua queda ao inferno e sobre os tormentos
no mundo de Yama,(a) sobre a separação de seus entes queridos, sobre
sua união com homens odiados, sobre sua decadência pela idade e
atormentados pela doença, sobre a partida da alma individual que
deixa este corpo e seu novo nascimento em outro ventre, e sobre suas
peregrinações através de dez milhões de existências, sobre a aplica-
ção da dor em espíritos encarnados que causa o demérito, e a con-
quista da ventura eterna, causada por se chegar a seu objetivo mais
elevado, ganho pelo mérito espiritual. (8)
(6.33 ss., passim)
a) Inferno.

4. Deveres das Mulheres

Por uma menina, uma moça ou mesmo uma mulher idosa, nada
deve ser feito independentemente, nem mesmo em sua própria casa.
Na infância, a menina deve estar submetida a seu pai, na moci-
dade a seu marido; quando seu senhor morre, a seus filhos; uma mu-
lher jamais deve ser independente.
Ela não deve buscar separar-se de seu pai, marido ou filhos; dei-
xando-os, ela tornaria tanto sua própria família quanto a de seu esposo
dignas de desprezo.
Ela deve ser sempre alegre, inteligente na direção das questões
domésticas, cuidadosa com seus utensílios e econômica nas despesas.
Aquele a quem seu pai possa dá-la, ou seu irmão com permissão
do pai, será obedecido por ela enquanto viver, e quando morrer, ela
não devera insultar sua memória.
Com o fito de trazer boa sorte as noivas, a recitação de textos
bendizentes e o sacrifício ao Senhor das criaturas são usados nos casa-
mentos, mas o matrimônio pelo pai ou guardião é a causa do domí-
nio do marido sobre sua esposa.
O marido que a esposou com textos sagrados sempre dá felici-
dade à esposa, tanto na estação quanto fora dela, neste mundo e no
seguinte.
Embora destituído de virtudes, ou buscando o prazer noutro lugar,
ou despido de boas qualidades, ainda assim um marido deve ser cons-
tantemente adorado como um deus por uma esposa fiel.
Nenhum sacrifício, voto ou jejum deve ser executado por mulhe-
res separadas de seus maridos; se uma esposa obedece a seu marido,
será por esse motivo apenas exaltada no céu.
Uma esposa fiel, que deseja morar com seu marido após a morte,
jamais deverá fazer qualquer coisa que desagrade aquele que tomou
sua mão, esteja morto ou vivo.
Se quiser, ela poderá emagrecer o corpo vivendo de flores, raízes
e frutas, mas jamais deverá mencionar o nome de outro homem depois
de ter morrido seu marido.
Até a morte deve ser paciente quanto as dificuldades, controla-
da e casta, e esforçar-se por cumprir aquele mais excelente dos deve-
res, prescrito as esposas que têm apenas um marido.
Violando seu dever com relação ao marido, uma esposa se des-
graça neste mundo; depois da morte ela entrara no ventre de um
chacal e será atormentada por doenças, a punição por seu pecado.
Aquela que, controlando seus pensamentos, palavras e atos, jamais
rebaixar seu senhor, reside apos a morte com seu marido no céu, e
é chamada uma esposa virtuosa.
Um homem nascido duas vezes, versado na lei sagrada, queimará
uma esposa de casta igual que se conduza assim e morra antes dele,
com os fogos sagrados usados para Agnihotra e com os artigos sa-
crificais.
Tendo assim no funeral dado os fogos sagrados a sua esposa morta
antes dele, ele poderá casar-se de novo, e manter vivos os fogos. (8)
(Ibd., 5.147-158,164, 165, 167, 168)

5. Rei e Punição

Só a punição governa todos os seres criados, só a punição os
protege; é a punição o que os protege enquanto dormem; os sábios
declaram que a punição é a lei.
Se a punição for devidamente aplicada depois de exame devido,
toma feliz o povo; mas aplicada sem exame, destrói tudo.
Se o rei não aplicasse incansavelmente a punição aos que me-
recem ser punidos, os mais fortes assariam os mais fracos, como pei-
xes em um braseiro;
O corvo comeria o bolo sacrifical e o cachorro lamberia as car-
nes sacrificais, e a propriedade não ficaria com pessoa alguma, e os
inferiores usurpariam o lugar dos superiores.
Todo o mundo é mantido em ordem pela punição, pois é difícil
achar um homem sem culpa; pelo medo a punição, todo o mundo pro-
porciona os desfrutes que deve.
Os deuses, os Danavas, os Gandharvas, os Rakshasas, (a) as dei-
dades de pássaro e serpente, só proporcionam os prazeres devido.s
aos mesmos se forem atormentados pelo medo da punição.
Todas as castas se corromperiam pela mistura, todas as barrei-
ras se romperiam e todos os homens se irariam uns contra os outros,
em conseqüência de erros com relação a punição.
Mas onde a Punição com cor negra e olhos vermelhos impera,
destruindo os pecadores, os súditos não se perturbam, desde que quem
a aplique tenha o necessário discernimento. (8)
(7.18, 20-25)
a) Classes de demônios ou semideuses.

6. O Mérito Espiritual

Não proporcionando dor a criatura alguma, que acumule lenta-
mente mérito espiritual, com o fito de adquirir um companheiro no
mundo seguinte, assim como a formiga branca gradualmente erige
seu formigueiro.
Pois no mundo seguinte nem pai, nem mãe, nem esposa, nem
filhos, nem parentes, estarão para lhe fazer companhia; só o méri-
to espiritual estará com ele.
Todo ser nasce sozinho e assim morre; sozinho ele desfruta a
recompensa de sua virtude, e sozinho sofre a punição de seu pecado.
Deixando o corpo morto no chão coma um toco de madeira
ou um torrão, os parentes saem com rostos voltados para outros
lados; mas o mérito espiritual acompanha a alma.
Que ele, portanto, acumule sempre e lentamente o mérito espi-
ritual, para que seja seu companheiro após a morte, pois sem o mé-
rito por companheiro ele atravessará uma tristeza difícil de atravessar.
Aquele companheiro rapidamente conduz o homem devotado ao
dever e apaga seus pecados por austeridades ao mundo seguinte, ra-
diante e dotado de um corpo etéreo.(8)
(4.238-243)

7. A Criação do Mundo

Este universo existia na forma de Treva, impercebido, destituído
de marcas distintas, inatingível pelo raciocínio, incognoscível, intei-
ramente imerso, por assim dizer, em sono profundo.
Foi quando o Auto-existente divino, ele próprio indiscernível,
mas tomando tudo isso, os grandes Elementos e o resto, discernível,
surgiu com poder criador irresistível, desfazendo a treva.
Aquele que só pode ser percebido pelo órgão interno, que é sutil,
indiscernível e eterno, que contém todos os seres criados e é incon-
cebível, brilhou por sua própria vontade.
Desejando produziu seres de muitas espécies com seu próprio cor-
po, ele primeiramente criou as águas com um pensamento, e pôs sua
semente nas mesmas.
Essa semente se tomou um ovo dourado, em brilho igual ao sol;
naquele ovo ele próprio nasceu como um brâmane, o progenitor de
todo o mundo.
Dessa primeira causa, que é indiscernível, eterna e tanto real
quanto irreal, produziu-se aquele homem que é famoso neste mundo
sob o nome de Brahman.
O divino residiu naquele ovo durante todo um ano, e depois
ele próprio, por seu pensamento apenas, dividiu-o em duas metades;
E dessas duas metades ele formou céu e terra, entre elas a
esfera média, os oito pontos do horizonte e a morada eterna das
águas.
Mas no início ele atribuiu seus diversos nomes, atos e condi-
ções a todos os seres criados, de acôrdo com as palavras dos Vedas.
O curso de ação que o Senhor de início indicou a cada tipo
de seres, só esse fora adotado em cada criação posterior.
O que ele indicara a cada qual na primeira criação, nocividade
ou inofensividade, gentileza ou ferocidade, virtude ou pecado, verda-
de ou falsidade, mais tarde se prendeu espontaneamente a cada um.
Como a alteração das estações, cada qual por sua própria conta
toma suas marcas distintivas, do mesmo modo os seres corporais em
novos nascimentos retomavam seu curso de ação indicado.
As diversas condições neste círculo de nascimentos e mortes sem-
pre terrível e em constante transformação, a que os seres criados
estão sujeitos, acham-se declaradas, para começar, com a de Brahman,
e para terminar com a das criaturas imovíveis.
Quando aquele cujo poder é incompreensível produzira assim o
universo, desapareceu em si próprio, suprimindo repetidamente um
período por meio de outro.
Quando esse ser divino acorda, o mundo acorda; quando dorme
tranqüilamente, o universo mergulha no sono.
Mas quando ele repousa em sono calmo, os seres corporais cuja
natureza é a ação desistem de seus atos e a inerte se toma inerte.
Quando se acham absorvidos todos de uma vez naquela grande
alma, aquele que é a alma de todos os seres dorme docemente, livre
de todas as preocupações e ocupações.
Quando essa alma entra na treva, permanece por muito tempo
unida aos órgãos da sensação, mas não executa suas funções, deixando
então o arcabouço corpóreo.
Assim ele, o imperecível, despertando e dormindo alternadamente,
revive e destrói sem cessar tôda essa criação móvel e imóvel.
Mas ouçam agora a breve descrição da duração de uma noite
e um dia de Brahman e das diversas idades do mundo, de acordo
com sua ordem.
Eles declaram que a idade de Krita (a) consiste em quatro mil
unos dos deuses; o crepúsculo antes dela consiste em outras tantas
centenas, e o crepúsculo seguinte no mesmo número.
Nas outras três idades,b com seus crepúsculos antecedendo e
seguindo, os milhares e centenas são diminuídos de um em cada.
Esses doze mil anos que foram assim mencionados como o total
de quatro idades humanas são chamados uma idade dos deuses.
Mas saibam que a soma de mil idades dos deuses forma um dia
de Brahman, e que sua noite tem a mesma duração.
Somente aqueles, que sabem que o dia santo de Brahman na
verdade termina depois de completarem-se mil idades dos deuses e
que sua noite dura outro tanto, são os homens conhecedores da du-
ração dos dias e noites.
Ao final daquele dia e noite, aquele que dormia desperta e, de-
pois disso, cria a mente, que é tanto real quanto irreal.
A mente, impelida pelo desejo de Brahman de criar, executa o
trabalho da criação modificando-se, com o que o éter é produzido;
eles declaram que o som é a qualidade deste último.
Mas do éter, modificando a si próprio, surge o vento puro e
poderoso, veículo de todos os perfumes; a esse é atribuída a quali-
dade do tato.
Em seguida ao vento, que se modifica sozinho, sai a luz bri-
lhante, que ilumina e desfaz a treva; a ela se atribui a qualidade
da cor;
E da luz, modificando-se, produz a água, que tem a qualidade
do paladar, e da água a terra que tem a qualidade do olfato; tal
é a criação no início.
A idade mencionada antes, a dos deuses, ou doze mil de seus
anos, multiplicada por setenta e um, constitui o que aqui se chama
o Período de um Manu.
Os Períodos de um Manu, criações e destruições do mundo, são
inúmeros; divertindo-se, por assim dizer, Brama repete isso infini-
tamente.
Na idade de Krita, Dharma (c) tem quatro pés e é inteiro, e
assim também é a Verdade; nem tampouco advém qualquer benefí-
cio aos homens por andarem eretos.
Nas três outras idades, devido a ganhos injustos, Dharma é su-
cessivamente privado de um pé, e pela existência de roubo, falsi-
dade e fraude o mérito ganho pelos homens é diminuído numa quar-
ta parte em cada um.
Os homens acham-se livres de doença, atingem todos os seus
objetivos e vivem quatrocentos anos na idade de Krita, mas na idade
de Treta e em cada qual das subseqüentes sua vida é encurtada de
uma quarta parte.
A vida dos mortais, mencionada nos Vedas, os resultados dese-
jados dos ritos sacrificais e o poder sobrenatural dos espíritos incor-
porados são frutos proporcionados entre os homens, de acordo com
o caráter da idade.
Um conjunto de deveres é prescrito aos homens na idade de
Krita, deveres diferentes na idade de Treta e na de Dvapara, e
outra vez novo conjunto na idade de Kali, em proporção na qual
tais idades diminuem em duração.
Na idade de Krita a virtude principal é afirmada como sendo
a execução de austeridades, na de Treta o conhecimento divino, na
de Dvapara a realização de sacrifícios, na de Kali somente a libe-
ralidade.
Mas para proteger este universo Ele, o mais resplendente de
todos, atribui deveres e ocupações separados aqueles que saíram de
sua boca, braços, coxas e pés.
Aos brâmanes, ele atribuiu o ensino e estudo dos Vedas, sacri-
ficando em seu próprio benefício e no de outros, dando e aceitan-
do esmolas.
Aos xatrias, ele ordenou proteger o povo, dar presentes, ofere-
cer sacrifícios, estudar os Vedas e abster-se de se prender a pra-
zeres sensuais;
Aos vaixás, mandou tratar do gado, dar presentes, oferecer sacri-
fícios, estudar os Vedas, comerciar, emprestar dinheiro e cultivar a
terra.
Apenas uma ocupação o senhor prescreveu aos sudras, a de servir
humildemente aquelas outras três castas.
Nesta obra a lei sagrada foi inteiramente declarada, bem como
as boas e más qualidades dos atos humanos e a regra imemorial de
conduta, a ser seguida por todas as quatro castas.
A regra de conduta é lei transcendente, quer ensinada nos tex-
tos revelados ou na tradição sagrada; daí, um homem nascido duas
vezes que possuir consideração para consigo próprio dever sempre
ter o cuidado de segui-la.
A criação do universo, a regra dos sacramentos, os regulamentos
do estudantado e o comportamento quanto aos Gurus,(d) a regra mais
excelente de banhar-se quando de volta da casa do mestre,
A lei do matrimônio e a descrição dos diversos ritos matrimô-
niais, os regulamentos para os grandes sacrifícios e a regra eterna
dos sacrifícios funerais,
A descrição dos modos de ganhar a subsistência e os deveres
de um snataka, (e) as regras a respeito de alimento legal é proibido,
a purificação de homens e coisas,
As leis a respeito de mulheres, a lei de eremitas, a maneira
de conquistar a emancipação final e de renunciar ao mundo, todo
o dever de um rei e a maneira de decidir questões judiciais,
As regras para o exame das testemunhas, as leis a respeito de
marido e mulher, a lei de herança e divisão, a lei acerca do jogo e a
retirada de homens nocivos como espinhos,
A lei sobre o comportamento de vaixas e sudras, a origem das
castas mistas, a lei para todas as castas em tempos de dificuldade
e a lei de penitências,
O curso triplo de transmigrações, o resultado de boas e mas
ações, a maneira de atingir a ventura suprema e o exame das boas
e mas qualidades das ações,
As leis primevas de países, castas, famílias, e as regras a res-
peito dos hereges e companhias de comerciantes e coisas afins -
tudo isso Manu declarou nesses Institutos. (8)
(1.5-118, com diversas omissões)

a) A primeira idade, ou idade dourada.
b) A idade de Treta, Dvapara e Kali, esta última sendo
a presente, e pior de todas.
c) A lei sagrada.
d) Mestres espirituais.
e) Um brâmane que completou sua preparação.

8. A Morte e Ação Humana

Mesmo que morresse com ele, um familiar não consegue acom-
panhar seu parente falecido e todos, com exceção de sua esposa, estão
proibidos de acompanhá-lo na trilha de Yama. (a)
Apenas a virtude o acompanhará, onde for; portanto, cumpre teu
dever sem hesitar neste mundo desgraçado.
As questões de amanhã devem ser tratadas hoje, e as da tarde
na manhã, pois a morte não esperara, tenha uma pessoa tratado de-
las ou não.
Enquanto sua mente estiver concentrada em seu terreno, ou
ocupação, ou casa, ou enquanto seus pensamentos estiverem absor-
vidos por algum objeto amado, a morte repentinamente a leva como
sua presa, como uma loba arrebata um cordeiro.
O tempo não é amigo de pessoa alguma, nem seu inimigo -
quando o efeito de seus atos em existência anterior, pela que sua
existência atual é causada, tiver expirado, ele leva o homem a força.
Ninguém morre antes de chegado seu tempo, ainda que ferido
por mil setas; ninguém vive depois de esgotado seu tempo, ainda que
tenha sido apenas tocado pela ponta de uma folha de grama Kusha.
Nem drogas, nem fórmulas mágicas, nem oferendas queimadas,
nem orações, poderão salvar quem esta nos laços da morte ou na
velhice.
Um mal iminente não pode ser evitado, mesmo com mil pre-
cauções; que motivo tens, então, para te queixares?
Assim como um bezerro encontra sua mãe entre mil vacas, um
ato cometido anteriormente encontrara certamente quem o perpetrou.
Das coisas existentes, o início é desconhecido, o meio de sua
carreira conhecido, e o fim desconhecido também; que motivo tens,
então, para te queixares?
Assim como o corpo dos mortais atravessa as vicissitudes da
infância, juventude e idade adiantada, também será transformado em
outro corpo dali em diante; um homem sensato não se engana a
esse respeito.
Assim como um homem veste roupas novas neste mundo, dei-
xando de lado aquelas antes usadas, também o eu do homem põe
novos corpos, que se acham de acordo com seus atos numa vida
anterior.
Arma alguma ferira o eu do homem, nenhum fogo o queimara,
nenhuma água o molhará e nenhum vento o secara.
Ele não será ferido, queimado, molhado ou secado; é impere-
cível, perpétuo, imutável, imóvel, sem início.
Diz-se também ser imaterial, passando todo o pensamento, e
imutável. Sabendo que o eu do homem é assim, não deves lamen-
tar a destruição de seu corpo. (9)
(Vishnu-slnriti, 20.39-53 )

a) O deus da morte.

9. O Poder da Verdade

A verdade é tida como o meio inigualável de purificação da
alma. A verdade é a escada pela qual o homem sobe ao céu,
como uma barca navega de uma para outra margem do rio.
Se a verdade e mil sacrifícios de cavalos forem pesados entre
si, Será verificado que a verdade pesa mais do que mil cavalos
sacrificados.

Um tanque é melhor do que cem poços, uma oferenda melhor
do que cem tanques, um filho melhor do que cem oferendas e a
verdade melhor do que cem filhos.
É a verdade o que faz a terra dar a luz todos os seres, é
quem faz o sol nascer.
É através da verdade que os ventos sopram e as águas correm.
A verdade é o maior bem, o meio mais eficaz de austeridade,
o mais elevado dever no mundo, sendo assim revelada a nos.
Os deuses são a verdade simplesmente, a raça humana a fal-
sidade. Aquele cuja mente for persistente na verdade obtém um
estado divina mesmo neste mundo.
Fala a verdade e abandona a falsidade. É pela verdade que
tu atingiras o céu. Pronunciando uma falsidade, tu te precipitarás
numa morada infernal pavorosa.
E nos infernos os ajudantes impiedosos de Yama, (a) dotados de
grande força, cortarão tua língua e te ferirão com espadas cons-
tantemente.
E te atacarão com lanças, enquanto chorares indefeso. Quan-
do estiveres de pé, eles te derrubarão e atirarão nas chamas.
Depois de teres passado assim bastante tempo nas torturas agu-
das do inferno, entraras neste mundo com os corpos horríveis de
abutres, corvos e outras criaturas desprezíveis.
Tendo descoberto esses males de que se acompanha a falsi-
dade e conhecendo, por outro lado, as vantagens resultantes da
veracidade, deves falar a verdade e com isso salvar-te. Não te ar-
ruines irresponsavelmente. (10)
(Narada-smrti, 1. 210-220 )
a) O deus da morte.