Poema edificante em 4.200 versos duplos, que combina um
objetivo tântrico a uma moralidade tomada de empréstimo ao
Ramayana, êste é um "Ramayana sôbre o plano do atman". Aqui
vemos um diálogo entre Xiva e a Deusa sôbre o caráter divino
de Rama e Sita. A obra deve datar do século XV.
O Karman (Carma)
Ninguém pode jamais ser a causa da fortuna ou do infortúnio de
outrem. O karman (carrna) que nós próprios acumulamos no passa-
do, só ele é a causa da fortuna e do infortúnio, cuja atribuição a ou-
trem, por parte de uma pessoa, é um erro, assim como é orgulho fútil
pensar: "Sou eu o autor disto", pois todos os seres estão presos pela
cadeia de seu karman (carma). Se o homem se arvora em que al-
guns seres são seus amigos, outros seus inimigos ou indiferentes a ele,
tal é de acordo com o karman (carma) que ele próprio preparou. Por
isso, é necessário que o homem tenha presentes com o mesmo espírito
sua fortuna e seu infortúnio, frutos apenas de seus próprios atos. Ele
deve dizer a si próprio: "Nem desejo obter desfrutes, nem tampouco
ser privado deles; se eu os adquirir ou não, dá no mesmo" e assim ele
não será um escravo. Em qualquer situação ou momento e por qual-
quer motivo, o homem executa um ato, bom ou mau, e por ele deve-
rá submeter-se às suas conseqüências.
Por isso, é em vão que ele se rejubila ou deplora num aconteci-
mento feliz ou infeliz, pois os decretos do Destino são inevitáveis até
mesmo para os demônios e os deuses. O homem jamais poderá es-
capar ao prazer e à dor, pois seu corpo, produto de seus bons e maus
atos, é transitório por sua própria natureza. Depois do prazer a dor,
depois da dor o prazer - e as criaturas não podem fugir a estes dois,
assim como não podem escapar à sucessão de dia e noite. Eles estão
intimamente liga os, como a água e a lama. É por isso que os Sábios,
percebendo que tudo é apenas ilusão, permanecem firmes e nem la-
mentam nem se rejubilam pelos acontecimentos infelizes e felizes. (40)
(2.6, 14-16)